<p>O país está às portas da bancarrota. Não há investimento, os trabalhadores amargam com salários em atraso. As contas do Estado estão sem controlo, os vencimentos da Função Pública e as pensões em risco. São já os organismos internacionais que ditam as regras das finanças públicas portuguesas. O Fundo Monetário Internacional e as agências financeiras estrangeiras são uma ameaça, a independência nacional é já uma saudade. O governo socialista está sem rumo, não tem soluções. Estamos em 1983. </p>
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Então, como hoje, o maior partido da Oposição, o PSD, está à deriva, sem causas nem rumo. Com uma liderança em gestão corrente, fala a várias vozes. Os seus militantes sentem-se órfãos. Os diversos grupos de barões digladiam-se. Os actores são sempre os mesmos, as suas caras estão desgastadas. Aproveitando esta situação de desnorte, um CDS moderno e europeu lidera o discurso de oposição e seduz o eleitorado social-democrata. Com enorme crueza, a história repete-se.
Mas pressentiam-se então os ventos da mudança. Dentro de pouco mais de um ano, surgiria uma nova liderança, alicerçada em fortes convicções doutrinárias e que traria a ruptura com o paradigma vigente. O PSD iniciava então o processo das privatizações e promovia a abertura de sectores como a banca e a televisão à iniciativa privada.
Os desafios são hoje distintos, mas a ruptura com o sistema impõe-se, mais uma vez. Ao PSD caberá o papel histórico de colocar o regime nos carris. É este, que não outro, o seu desígnio. Para implementar um modelo alternativo de governação terá de apresentar novas ideias e outros protagonistas. E alicerçar a sua acção num documento doutrinário, à semelhança desse manifesto reformista que foi o guião da liderança do primeiro-ministro Cavaco Silva: o "projecto de Constituição para os anos 80" de Francisco Sá Carneiro.