E, de repente, eis que começou a estalar o verniz no PSD. Melhor: eis que barões e "tubarões" decidiram, mancomunados ou não, começar a disparar sobre as opções de política fiscal de Passos Coelho e do seu ministro das Finanças. O chumbo usado é grosso e os atiradores têm pontaria afinada, dada a experiência acumulada durante anos na arte do "tiro".
Corpo do artigo
A extensão da ferida deve, por isso, ser considerável. Como reagirão os alvos? Antes: por que motivo se transformaram tão cedo em alvos (o Governo tem dois meses de existência)? Já estão a fazer a cama ao jovem líder do PSD? Lisbeth Salander, a jovem protagonista dos livros do malogrado Stieg Larsson, dava um jeitão para perceber o que está a passar-se no PSD: ela, hacker das melhores, entra nos computadores de toda a gente para extrair valiosa informação. É isso que nos falta: informação para entender o motivo do ataque e, mais importante do que isso, a estratégia que esteve na origem do dito.
Sim, é de considerar a possibilidade de não haver simplesmente estratégia. Isso significaria, no entanto, que estaríamos perante uma cómica coincidência: Manuela Ferreira Leite, Marques Mendes, Marcelo Rebelo de Sousa, Pacheco Pereira, Vasco Graça Moura, Eduardo Catroga, Pires de Lima, entre outros, escolheram o mesmo momento para criticar a política fiscal do Governo apenas porque sim, apenas porque lhes apeteceu...
Verdade que as almofadas de segurança criadas por Vítor Gaspar do lado da receita, tributando (quase) tudo o que mexe, estão a asfixiar a classe média. Verdade que as famílias estão no limite dos seus limites. Verdade que o Governo tem graves deficiências de comunicação. Verdade que a coisa piorará antes de melhorar. Verdade que a troika e os malvados mercados vêem o pânico na nossa face e não perdoarão a mínima escorregadela. Verdade que o remédio é tão forte que pode aniquilar o doente.
Tudo isso é verdade. Mas não é ainda demasiado cedo para que gente tão ilustre comece a demarcar-se do Governo? Se eles, que supostamente têm boa informação, acham que, assim, não chegamos lá, o que hão-de pensar os que, não tendo informação, os ouvem desencar as opções de Passos Coelho? Que leitura farão disto os homens da troika e os homens dos "mercados"? Uma: estes portugueses não se entendem, moderna versão do "não se governam nem deixam governar--se".
Eu também acho que estamos a cair na armadilha grega, ao aumentar impostos à tripa-forra. Eu também acho que, se juntarmos tudo o que nos pedem (IRS, Segurança Social, IMI...) estamos mais a falar de confisco do que propriamente de fisco. Eu também acho que se devia carregar mais no património do que no trabalho. Eu também acho o caminho perigoso. Mas eu também acho que é cedo para colocar gasolina no fogo.
Juraram-nos que, do lado da despesa, o corte será duas vezes superior ao esforço que nos está a ser pedido. Veremos se a jura não obrigará Passos Coelho a pedir novamente desculpa aos portugueses. Até lá, parece um bocadinho extemporâneo este exercício de demarcação dos barões "laranja". Até porque, como diz Lisbeth Salander, não há, entre eles, inocentes - há apenas diferentes graus de responsabilidade.