As próximas eleições presidenciais serão, na prática, uma espécie de plesbicito. Estará sobretudo em causa perceber a dimensão da maioria que Marcelo Rebelo de Sousa conseguirá nas urnas.
Corpo do artigo
O empurrão que faltava deu-o António Costa, no final da agora célebre visita conjunta à Autoeuropa. O PS desistiu de apresentar candidato. Talvez assustado com os fiascos de 2016 (a família socialista dividiu-se entre Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém), de 2011 (Manuel Alegre não chegou aos vinte pontos) e 2006 (a família outra vez dividida entre Manuel Alegre e Mário Soares).
Ou talvez a fazer contas à necessidade de se manter afinado com o único político com poder para abanar os alicerces deste Governo minoritário. Para o bem e para o mal, Marcelo e Costa lideraram o baile político durante os últimos anos e assim deverá continuar a ser. Um plesbicito, portanto, é que nos espera em janeiro do ano que vem. E, em segundo plano, dois pequenos concursos para ver quem é mais popular à Esquerda (BE ou PCP) e à Direita (Chega ou CDS/Iniciativa Liberal).
Sucede que, se é legítimo ao comentário "adivinhar" que uma eleição será um plesbicito, não se pode aceitar o mesmo de quem tem a responsabilidade, até constitucional, de manter a vitalidade dos mecanismos da democracia. Marcelo, usando um discurso popular (ou populista), veio avisar que só em dezembro anunciará se concorre a um segundo mandato. "Eu próprio não pensei nisso", atirou o atual presidente, acrescentando que a campanha será ainda mais pequena e barata do que a que fez há cinco anos.
Marcelo é capaz de ter razão. A maioria das pessoas não terá paciência para campanhas. E ainda menos para ouvir falar em gastos com campanhas. Também já não se interessará por confrontar propostas políticas e assistir a debates. Se o atual presidente aposta tudo em ser popular, escolheu o caminho mais curto. Mas talvez fizesse melhor em fortalecer os mecanismos da democracia, que não se pode esgotar numa ida apressada à mesa de voto. Há por aí, até na Europa, algumas democracias que também ficam baratinhas. Só que já não são bem democracias.
*Chefe de Redação