A Europa vive um momento de tensão política crescente. Em França, a extrema-direita ameaça entrar pela porta principal do Eliseu em 2027; no Reino Unido o radical Reform UK cavalga para a liderança das sondagens, ultrapassando o Partido Trabalhista, cujo desgaste no Governo é enorme; em Portugal, é difícil prever quem será o novo inquilino em Belém.
Um extenso estudo internacional realizado pela Ipsos em sete países europeus (a que se juntaram o Reino Unido e os EUA) revela que a democracia se deteriorou muito nos últimos cinco anos. Os principais riscos elencados são: a desinformação, a corrupção, a falta de transparência das políticas e a ascensão dos partidos extremistas. Há, na verdade, uma interligação profunda entre estas variáveis. O crescimento das desordens informativas cria um terreno fértil para movimentos populistas e políticas emergentes que conseguem capitalizar o descontentamento popular, oferecendo respostas simples para problemas complexos.
Em França, Jordan Bardella simboliza esta nova realidade. Com apenas 30 anos, tornou-se a personalidade política mais popular de França e surge como potencial vencedor das eleições presidenciais de 2027. De substituto de Marine Le Pen passou a favorito no seu partido e, agora, no hexágono. Face à cada vez mais certa inelegibilidade de Le Pen em atos eleitorais, Bardella representa a juventude, a comunicação direta e a capacidade de atrair eleitorado, sobretudo aqueles que estão arredados da política.
O avanço de Bardella não acontece de forma isolada. Em Itália, Giorgia Meloni consolidou-se como primeira-ministra e líder do partido Fratelli d"Italia, impondo uma agenda nacionalista com repercussões diretas na União Europeia. Nos Países Baixos e na Alemanha, as forças de extrema-direita impõem-se com determinação. No Reino Unido, Nigel Farage continua a ser uma voz influente na política populista. Tudo isto demonstra que a ascensão de movimentos radicais na Europa não é uma questão doméstica, mas um fenómeno transnacional que desafia a lógica tradicional das democracias consolidadas.
Em Portugal, André Ventura não iguala o desempenho dos seus congéneres europeus. Não tem a elegância de Bardella, nem a astúcia de Meloni. Aproximar-se-á mais de Farage. Mas talvez valesse a pena perceber por que razão no Reino Unido o líder do Reform UK está a ser ultrapassado pelo popular Zank Polanski, o novo presidente do partido Os Verdes. Gritar sempre cansa, repetir reiteradamente os mesmos temas reduz a nossa atenção e avançar com propostas demagógicas mina a credibilidade. Na verdade, as eleições presidenciais em Portugal poderão constituir um bom exemplo acerca daquilo que (não) se deve fazer.

