A Democracia não é um bem ou um direito adquirido e permanente. A deriva autoritária está adormecida ou em alerta em muitos seres humanos ávidos do poder totalitário e da tirania. Lutam, na frente política, usando maleficamente os direitos humanos, sociais e políticos ínsitos a qualquer Democracia, para a destruir.
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Em Israel, os cidadãos conscienciosos e defensores da sua cidadania e da Democracia em que vivem lutam nas ruas contra a reforma judicial empreendida pelo Governo, numa manifesta tentativa de instauração de um regime teocrático e autoritário. Os exemplos multiplicam-se assustadoramente por todo o Mundo. A revista "The Economist" afirma que os regimes autoritários têm vindo a expandir-se e a revista "Visão" diz que 54,8% da população mundial vive actualmente em países ou territórios não democráticos. O nosso país não foge, infelizmente, a um surgimento arrivista, demagógico, populista e antidemocrático. É preciso investir na educação, cultura e cidadania de todos. Passados 49 anos da Revolução de Abril, são inacreditáveis as respostas das pessoas questionadas na TV sobre o que foi o 25 de Abril, quem foi Otelo Saraiva de Carvalho, quem era Marcelo Caetano. Não sabem, não fazem ideia ou respondem de forma absurda. A responsabilidade por esta falta de cultura geral, política e social não é deles, mas sim dos responsáveis políticos que não tiveram o cuidado de fazer preservar o conhecimento e a memória da nossa grande festa da vida democrática. Os historiadores defendem que o 25 de Abril é uma história com muitas narrativas...... Mas certo é, também, que até 24 de Abril de 1974 o povo sufocava sob um regime político autoritário, com uma polícia política que prendia e torturava pessoas pelo seu pensamento crítico, pela denúncia da falta de liberdade, fraude nas eleições, a miséria em que a maior parte da população vivia, o analfabetismo, iliteracia e o isolamento do país. Certo é, também, que no dia seguinte, brotou, bem forte e bem sentido, o grito da liberdade. Eliminaram-se barreiras de comportamento, de pensamento, de ideologia, abraçaram-se projectos em todas as áreas que fizeram de nós um país europeu. Isto são factos, creio. Mostra-se essencial levá-los ao conhecimento de todos, na escola, nas universidades, na colectividade para que, conscientes do valor da Democracia, possamos perceber e rejeitar o regresso a um passado obscuro ou a um novo tipo de fascismo. A comissária executiva das Comemorações dos 50 anos de Abril anunciou um trabalho em curso para preservar a memória da Revolução dos Cravos. Ainda bem, se essa preservação chegar às ruas, à vida dos cidadãos, inclusive através da Comunicação Social que tem o dever ético de divulgar e actualizar as conquistas de Abril, não ficando refém de uma Direita extremista tão publicitada nas redes sociais e nos média. A Democracia é o melhor e mais justo regime político que se conhece, porque nela nos vemos livres e cidadãos em igualdade, solidariedade e justiça.
Ex-diretora do DCIAP