Demografia: Um desafio estratégico para o futuro da Europa
Corpo do artigo
A Europa encontra-se perante uma das maiores encruzilhadas do seu tempo – a crise demográfica. O envelhecimento populacional, a queda da natalidade, a redução da população em idade ativa, a desigualdade territorial demográfica e as alterações da população ligadas aos movimentos migratórios estão a comprometer a sustentabilidade social, económica e humana do modelo europeu.
Nesta encruzilhada demográfica, em reunião do Grupo Partido Popular Europeu (PPE), realizada no passado mês de junho, foi adotado o documento “Demografia: Garantir o futuro da Europa através da família, da solidariedade e da responsabilidade intergeracional”, defendendo uma estratégia ambiciosa e sistémica centrada na valorização das famílias, na conciliação entre vida profissional e pessoal, no apoio ao envelhecimento ativo e na revitalização das regiões em declínio populacional. As mudanças demográficas representam um dos desafios estratégicos mais significativos para o futuro da Europa, exercendo “uma pressão cada vez maior sobre os mercados de trabalho, os sistemas sociais e de reforma e os serviços de saúde nos estados-membros. Não há futuro para a Europa sem uma demografia sustentável”, sustenta o PPE neste documento.
No centro da proposta está a valorização da família como pilar da coesão social e núcleo fundamental da renovação geracional. O PPE propõe medidas concretas: o reforço dos abonos de família, uma política europeia de licenças parentais, uma habitação acessível para jovens casais, serviços de apoio à infância e medidas que promovam um verdadeiro equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. A mensagem é clara: construir uma família deverá ser uma possibilidade real e protegida e não um obstáculo intransponível.
Com uma perspetiva de justiça de género, o documento defende a partilha equitativa dos cuidados e estruturas que permitam às mulheres conjugar maternidade e carreira sem renúncias. A igualdade efetiva exige políticas que respeitem escolhas livres, informadas e sustentáveis.
O envelhecimento ativo é outra prioridade. Valorizar os adultos mais velhos, combater a solidão, investir na aprendizagem ao longo da vida e reconhecer o papel dos avós são componentes essenciais de uma sociedade mais justa. A chamada “economia prateada” deve ser vista como oportunidade e não como um custo.
O documento do PPE dedica, igualmente, atenção à realidade rural, tantas vezes esquecida. Reverter o despovoamento exige medidas estratégicas: apoio à instalação de jovens agricultores, incentivos à fixação de famílias no interior, serviços públicos de proximidade e conectividade digital.
Por fim, a migração é abordada com equilíbrio, responsabilidade e humanização. A migração legal pode contribuir para mitigar a escassez de mão de obra, mas não pode substituir as políticas internas de revitalização demográfica. É fundamental garantir a compatibilidade entre as competências dos migrantes e as necessidades dos estados-membros, promovendo sempre a integração social e o respeito pela identidade nacional.
Em suma, o documento do PPE é um contributo relevante e concreto para colocar a demografia no centro da agenda política. Com visão estratégica, compromisso e políticas adequadas, é possível inverter as tendências demográficas e construir uma Europa com futuro — uma Europa que respeite a vida, apoie as famílias, promova a justiça entre gerações e valorize cada cidadão, independentemente da sua idade ou condição.