Ontem, na apresentação das linhas gerais sobre a estratégia que o Alto Minho deve seguir tendo 2020 como horizonte, o autor do estudo, Augusto Mateus, ex-ministro e economista, lembrou à plateia que o ouviu em Viana do Castelo que este tempo não se compadece com "medidas piedosas". Mateus queria dizer que não vale a pena escrutinar o passado e chorar sobre o que não fizemos e devíamos ter feito. O tempo exige que se tomem, hoje, as medidas adequadas para garantir que o futuro não será igual ao presente. No caso do Alto Minho, território repleto de oportunidades e potencialidades, Augusto Mateus entende que não se sairá da cepa torta sem "um jogo cooperativo entre os municípios da região".
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É possível, creio, estabelecer a partir daqui um paralelo com o que tem acontecido em Portugal desde que Passos Coelho tomou posse. O Governo tem bombardeado os contribuintes com uma série de medidas "impiedosas". É assim porque tem de ser assim. Caso contrário, caminharemos para um sítio onde a única luz que se vê ao fundo do túnel é a do comboio que vem em direcção a nós.
Politicamente, isto exige, parafraseando Augusto Mateus, "um jogo cooperativo" entre governantes e governados. Esse jogo só pode fazer-se se houver confiança entre as partes. Isto é: se aos esforços pedidos corresponder uma exemplar dedicação e prestação do Governo. É nestes momentos de agonia que a união faz a força. E a força será tanto maior quanto maiores forem a credibilidade do Executivo e a ética e equidade introduzida em cada das "impiedosas" decisões.
Ora, a sucessão de criticáveis nomeações (umas mais do que as outras, é verdade) para cargos públicos tem vindo a roubar ao Governo um quinhão bastante grande da argamassa necessária para manter a coesão social e política, condição fundamental para atravessar a tormenta que temos pela frente.
Em bom rigor, o regresso dos "jobs for the boys" já por aí andava há muito. Mas, como se tratava de nomeações para cargos sem visibilidade pública, a coisa manteve-se sossegada.
Demorou, mas chegou a altura de Passos Coelho pagar com língua de palmo o que disse, ingenuamente, durante a campanha sobre o tema: jurou que, com ele, o critério do amiguismo e da militância "laranja" não vingariam na ocupação de lugares apetecíveis no aparelho de poder. A coligação atropelou-o. E com violência, como se vê pelas notícias que todos os dias dão conta da nomeação de amigos, amiguinhos ou amigalhaços. E a procissão, acreditem, ainda vai no adro...
O ignaro povo tem pouca paciência para estas jogatanas políticas. Mas tende a desvalorizá-las, recorrendo ao velhinho "eles são todos iguais". Sucede que, desta vez, o povo está bastante mais sensível. A matéria é inflamável: Passos não pode pedir o couro e o cabelo ao contribuinte e, depois, deixar no ar este intenso cheiro a cumplicidades espúrias pagas com a entrega de cargos no Estado.
É mau. É perigoso. E sai caro. Apesar disso, Passos Coelho diz-se "confortado" e "confortável" com as nomeações. São gostos - e os gostos não se discutem.