O isolamento social a que estamos votados é claramente algo que sentimos que nos acontece paredes abaixo e acima, como uma relação intensa que estabelecemos mais do que nunca com a configuração de nossos espaços íntimos.
Corpo do artigo
Somos, afinal, do tamanho do que pensamos ou, melhor, do que imaginamos, mas o corpo é uma inevitável unidade de medida que nos obriga a um ponto de partida. De facto, façamos como quisermos, início de tudo é o corpo, lugar de regresso é o corpo.
Acho muito sintomático que ao Agostinho Santos aconteça a arte como se a própria parede do seu atelier se precipitasse sobre a cabeça. Esse maldito vírus que nos obriga grandemente ao ponto de partida é uma constrição da própria casa, uma vastidão exterior que procura vazar pelos poros aflitos de nossas fortalezas. Ver o vírus, iluminar esse inimigo para saber da profundidade do medo e gizar uma estratégia para a vitória, é ansiedade de quem imagina. É modo de prometermos que, cercados embora, usamos de todas as sabedorias para o confronto, usamos tudo quanto podemos para a sobrevivência.
Habitual nas causas, em certo plano de batalha, seria inelutável chamar Agostinho Santos à questão. O mural que agora infeta sem tréguas o seu atelier é bravo, uma denúncia do susto e da dor, ao mesmo tempo que se faz coragem e apela à condição redentora da arte.