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Quanto tempo vai a Justiça demorar a provar a sua inocência? Perguntando o mesmo de outro modo: quanto tempo vai ser preciso para voltarmos a confiar?
O primeiro-ministro continua acossadíssimo. Esta semana , livrou-se do Freeport (soube-se que não seria acusado), mas já ninguém se lembra do caso, do muito que se escreveu, disse e se supôs sobre o seu envolvimento. Agora temos Face Oculta e temos, sobretudo, a necessidade de investigar o negócio PT-TVI com ou sem mãozinha do Governo. Já tivemos um primeiro-ministro que era recebido pelo presidente da República em Belém com um gravador sobre a mesa, para que não houvesse dúvidas sobre o que cada um deles dizia ao outro nas semanais conversas a dois. Termos, agora, um primeiro-ministro sob suspeita de manipular e sob suspeita de mentir sobre essa manipulação não será certamente coisa boa. Nem sabemos se mentiu, se manipulou. Apenas temos a convicção de que ninguém consegue viver sob essa suspeita, quanto mais governar o país.
E será bom avançar-se uma comissão parlamentar de inquérito? Acreditamos nela? Estamos certos de que não julgará com olhos apenas políticos? Não será um ajuste de contas político-partidário? Já nos esquecemos da comissão sobre o acidente de Camarate que concluía ter sido atentado ou acidente consoante a maioria que dominava? E quanto tempo demorará tal comissão a chegar a uma conclusão?
Melhor seria confiar na Justiça. Mas a Justiça dá tiros no pé e põe-se a jeito para sofrer ataques que se julgavam impensáveis. Quanto tempo vai a Justiça demorar a provar a sua inocência? Perguntando o mesmo de outro modo: quanto tempo vai ser preciso para voltarmos a confiar? Até agora as críticas centravam-se na lentidão. Agora foi atingida na alma, discute-se o seu envolvimento político.
Se alguém tivesse urdido um esquema para desacreditar a democracia não faria muito diferente. Primeiro, atacaria os políticos, a sua idoneidade, a sua probidade, o seu carácter, pondo a nu a sua pusilanimidade. À esquerda e à direita. Depois poderia atirar sobre a justiça, apontando a sua politização, o interesse dos juízes nos processos, o seu alinhamento político. Melhores resultados se muitos pudessem ser os atingidos. O principal estaria feito. Dividir a Imprensa em bons e maus é também bom caminho para a desacreditar. Quem numa época de crise teima em ver o mundo ou a preto ou a branco merece que se duvide das suas intenções. Tudo tem um segundo sentido, tudo permite leituras consoante os interesses políticos.
Assim vai o país. Necessitando que os políticos arrepiem caminho e a Justiça faça por se merecer junto dos cidadãos. Como se consegue tudo isso? - Parece que já ninguém sabe. Ou, então, os que sabem desinteressaram-se e eles próprios já não acreditam.