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Desafios urgentes no momento são três: 1. Perceber que as dúvidas hoje reiteradas pela Comissão Europeia sobre o OE2018 fazem sentido e devem ser tomadas em conta. O OE2018 é relativamente satisfatório no critério da disciplina orçamental mas muito pobre nos critérios das reformas estruturais e do estímulo ao investimento. Entenda-se por reformas estruturais todas aquelas medidas que permitam um aumento sustentado da produtividade e por estímulo ao investimento todas as medidas que permitam que o investimento (público e privado) seja mais rápido e mais transparente.
2. Perceber que políticas públicas como o programa SIMPLEX são, neste contexto, absolutamente prioritárias. Da sua conceção e aplicação sistemática pode depender uma aceleração corretiva da nossa longa trajetória de divergência com a União. Serão ações concretas neste domínio que permitirão evitar exemplos como aquele com que me deparei há dias em que dez metros quadrados de terreno (alegadamente atravessados sem autorização) interrompem judicialmente a execução de um investimento de várias dezenas de milhões de euros, há já dois anos. A produtividade do trabalho, essa depende naturalmente de outros parâmetros dos quais a formação emerge destacadamente. Conceda-se, no entanto, que diminuir a taxa de abandono escolar dos ainda muito elevados 14% é matéria para condicionar vários exercícios orçamentais.
3. Perceber ainda que a nossa atual estrela - o setor do turismo - não é um bom líder para nenhum dos desafios anteriores. O setor é pouco transparente, extremamente precário e muito mal remunerado.
Os "desconfios" são os de sempre.
A descentralização em Portugal não é levada a sério. Sobretudo quando se trata da máquina "intermédia" do Estado. Os institutos públicos, as agências nacionais e por aí a fora. Digo isto porque nenhum dos exemplos recentes passou de um exercício de voluntarismo mal calculado, no caso da Instituição Financeira para o Desenvolvimento (vulgo Banco de Fomento) ou de um atrevimento logo corrigido, no caso da Agência Portuguesa para o Investimento que depois de engolida pelo ICEP (ainda que se diga o contrário) ficou com a sede a fazer de conta no Porto.
Vem agora o Infarmed. Já não chegava o dossiê atrabiliário da Agência Europeia para o Medicamento, segunda e esforçada escolha nacional, para agora nos vermos confrontados com uma espécie de compensação que pelos vistos não reivindicamos nem a própria consentiu.
Julgo que seria bom fazer sentir ao Governo, ao invés de ficarmos genericamente muito contentes, que temos uma palavra a dizer sobre o que gostaríamos de ter na cidade e que temos um papel a desempenhar no processo de negociação dessa eventual deslocalização.
Tudo o resto é trapalhada em cima dos joelhos a roçar a falta de respeito.
ANALISTA FINANCEIRA