Corpo do artigo
No ano que agora termina foram várias as vezes em que senti o Mundo à beira do abismo. Conflitos geopolíticos, disputas energéticas e tensões sociais redefiniram fronteiras. Dentro de portas, ouvi discursos políticos que frequentemente coloquei ao nível dos mundos inverosímeis, mas possíveis. O ano que agora se abre emerge, pois, como um ponto de inflexão: ou escolhemos aprender com os erros do passado ou precipitamo-nos numa fragmentação irreversível e de danos incalculáveis.
Relembrando alguns acontecimentos que marcaram o ano findo, salientam-se pela intensidade e pelos perigos que reúnem a guerra na Ucrânia e o conflito em torno de Israel. Claro que houve também atos eleitorais que nos colocaram num carrossel de enorme imprevisibilidade. Todavia, sou particularmente sensível às disputas por recursos, que se intensificam velozmente. A transição energética, tão necessária para enfrentar as mudanças climáticas, mostra-se hoje um musculado campo de batalha: nações detentoras de lítio e terras raras usam os seus recursos como armas temíveis, enquanto algumas potências procuram alternativas a qualquer custo. Em 2025, a geopolítica do verde já não se preocupará apenas em salvar o planeta, mas procurará conquistar todos os meios para o controlar.
Por entre os fios imprevisíveis da ação humana, vai avançando à velocidade da luz a inteligência artificial. Nos nossos dias, vamos descobrindo, atónitos, que a verdade é o maior campo de batalha. Por isso, um dos maiores desafios é o da regulamentação e da governança de sistemas cujo impacto social pode (e vai) mudar o Mundo.
Num ano em que o discurso político português nos puxou para o domínio das perceções, uma das minhas maiores preocupações é a da sustentabilidade dos média noticiosos. Nunca como agora o jornalismo foi tão necessário. Para nos situar no essencial que importa reter, para nos salvar de manipulações e controlo da informação, para nos dizer aquilo que importa saber. A nível governativo, um pacote de apoio aos meios de Comunicação Social e o desenho de um contrato de concessão de serviço público de média prometem reduzir assimetrias várias e reabilitar o jornalismo. É um bom sinal que, no entanto, precisa ainda de passar à ação para ganhar validade.
Não são tempos eufóricos estes que atravessamos. Temos um planeta para salvar, guerras para neutralizar, sistemas políticos para equilibrar, inovações tecnológicas para reajustar à vida de todos os dias... Tudo isto exige colaborações globais e soluções inovadoras que reclamam decerto outras competências coletivas e individuais. Talvez possamos começar por apostar mais na inclusão e na empatia. A todos os níveis. Um excelente 2025.