Há pessoas que conseguem desaparecer sem deixar rasto. Mas há outros casos, como o de João Rendeiro, em que é muito complicado desaparecer sem deixar rosto.
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Se as dúvidas que se instalaram na minha cabeça fossem apenas minhas, eu não estaria aqui a escrever esta crónica. Acontece que a esmagadora maioria dos meus amigos e outras pessoas com quem tenho abordado este tema têm a cabeça repleta de interrogações. Eles, como eu, não conseguem perceber nem os motivos que poderão estar por trás do anunciado suicídio, nem o sentido que fazem alguns outros factos que têm vindo a ser noticiados. Nomeadamente a súbita profusão de declarações da sua advogada sul-africana. Neste particular causa muita estranheza que a advogada que o representou no tribunal sul-africano e que durante mais de três meses guardou de Conrado o prudente silêncio agora, quando se soube que tinha deixado de o patrocinar por falta de pagamento, de repente são só revelações e declarações no mínimo surreais. Acresce ainda que também não se consegue perceber o timing deste ato, sendo verdade como relatou a advogada que por um lado o seu ambiente na cadeia já era bem melhor que no início e era fortemente provável que viesse a aguardar em liberdade os muitos anos que o processo de extradição levaria a decidir na África do Sul.
Parafraseando o meu amigo e escritor Rui Zink, após a instalação do medo registamos a instalação da angústia.
Depois de terminada de forma conhecida a enorme angústia para o encontrar, nasceu agora a partir da notícia da sua morte uma outra espécie de angústia para confirmar... o que de facto terá acontecido. Se as informações tivessem apontado ou concluído pela existência de um crime de homicídio, provavelmente o assunto ficaria definitivamente encerrado. Não tendo acontecido assim e perfilando-se como causa da morte o seu suicídio por enforcamento, é natural que muitas pessoas, até a começar pelos familiares e autoridades judiciais e a acabar nos lesados do BPP, queiram ter mais certezas sobre o infausto acontecimento.
À data em que escrevo desconheço o estado atual deste processo. Não sei se vai haver trasladação do corpo para Portugal e se vai registar-se ou não a cremação (como pelos vistos era vontade de João Rendeiro) e nesse caso se o corpo será cremado na África do Sul ou só depois em Portugal.
Se eu fosse interessado nos processos judiciais em curso ou seu familiar, não ficaria satisfeito se as duas únicas pessoas a atestarem a identificação do corpo acabassem por ser apenas e só a sua ex-advogada sul-africana e um representante do consulado.
Empresário