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Uma história falsa é quase sempre mais sumarenta e irresistível do que a verdade. A mentira é simples, a mentira encaixa nos nossos medos, a mentira é aquela comida rápida que nos enche o estômago rapidamente numa explosão de sabor, mas que depois nos deixa dois dias maldispostos. Mais uma vez, andou a circular pelas redes sociais uma daquelas histórias que, a ser verdade, seria notícia em qualquer jornal do Mundo.
Uma menina de 14 anos armada com um machado defendeu a irmã, de 12 anos, de um suposto ataque de imigrantes islâmicos, no Reino Unido, numa altura em que as tensões sobre a imigração no país estão em ponto de ebulição, muito à custa de desinformação.
Como chama em palha seca, a história circulou pelos canais habituais da extrema-direita global, incluindo pela conta de Elon Musk e do deputado português Pedro Frazão, na rede X. Tratando-se de dois "habitués" deste género de publicações, é muito difícil acreditar que tenham sido apenas enganados inocentemente por mais uma história nas redes.
Após algum trabalho jornalístico, que demora bem mais tempo do que simplesmente cuspir algo nas redes, foi possível perceber a verdadeira história. Na realidade, a menina estava a tentar atacar um casal búlgaro com motivações racistas e foi acusada de posse de arma ilegal pela polícia escocesa, tal como as autoridades revelaram mais tarde nas redes sociais, quando se aperceberam da mentira que se espalhava e acicatava o ódio na população.
Esta é uma das mais recentes patranhas a circular, mas todos os dias surgem novas e são muitas vezes ditas, sem contraditório, em frente a microfones televisivos por responsáveis políticos, sabendo que a falsidade se espalha facilmente, enquanto a verdade é menos "viral".
Muitas vezes, quem partilha cai de forma inocente na esparrela mentirosa, porque tudo está preparado para que tal aconteça. Há uma espécie de "internacional xenófoba" bem oleada e financiada, para espalhar mentira, descredibilizar instituições, aniquilar o jornalismo e gerar caos. Uma das frases que mais se escuta e lê é "disto não falam os jornais".
É claro que, ao pesquisar nos jornais, será possível encontrar a informação publicada, se for verdadeira, mas quem diz estas coisas, normalmente, não consome notícias... absorve apenas lixo sem filtro. E mesmo que diga "eu só partilhei o que vi" nas redes, não está ilibado de culpa, porque em pouco tempo pode perceber se o que leu é verdade ou não.
Desconfie do que lê nas redes, desconfie se a história lhe parecer perfeita demais, desconfie se quer continuar a viver em democracia, desconfie para não ser manipulado.

