Desconfinar progressivamente não implica regressar de forma súbita à vida pré-covid. Contudo, foi esse o caminho de muitos. E isso vai tendo reflexo no número de infetados.
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É, pois, imperativo fazer um ponto de ordem: o vírus continua cá, ainda não atingimos a imunidade de grupo e há regras básicas que devem ser respeitadas em espaços comuns, nomeadamente o uso de máscara e o distanciamento físico.
E, de repente, os transportes públicos enchem-se de pessoas que viajam demasiado juntas, com máscaras mal colocadas, sinalizando paragens em botões com toques de muitos outros passageiros. Os cafés vão tendo mais clientes que aviam à pressa uma pequena refeição em balcões repletos e se encostam sem cerimónia uns aos outros. Os restaurantes também adquiriram outra vitalidade e o distanciamento entre mesas nem sempre é o desejável, sobretudo em espaços com pouca ventilação. Na rua, veem-se agora mais transeuntes sem máscara, mesmo em zonas de alguma aglomeração. Nas escolas, os estudantes aproveitam os horários livres para confraternizarem sem barreiras. E, à noite, os jovens juntam-se em tribos que se diluem no desafio libertário que lançam ao Sars-CoV-2. Olhando para estes ambientes, parece que a pandemia terminou e há uma vida sem restrições para ser celebrada a todo o momento. Isso comporta um perigo colossal.
Nos últimos dias, o desconfinamento tornou-se um tema político. Presidência da República, Governo e Câmara Municipal de Lisboa assumiram a centralidade do debate público. Jornalistas e comentadores procuraram contradições e divergências entre cada um destes polos. No entanto, para lá das discussões habituais, convém não perder de vista que o assunto continua a ser do domínio da saúde pública e é como tal que deve ser tratado. Assim, há que ouvir especialistas e assumir uma comunicação centrada nas pessoas.
Com o desconfinamento a merecer mais cuidados em algumas regiões, principalmente na capital, quem decide tem de acautelar alguns aspetos: impor mais distanciamento físico em zonas que concentrem muitas pessoas, lançar uma campanha de reforço quanto ao uso das máscaras e sancionar quem viole esse princípio, controlar ajuntamentos noturnos, comunicar regularmente com os cidadãos para que estes não abandonem comportamentos de prevenção. E, claro, continuar o bom trabalho de vacinação em curso.
Hoje o problema maior está em Lisboa, amanhã estará no Algarve e depois em várias zonas do país. Há que cuidar bem do verão para não entrarmos no outono em completo descontrolo. Pelo menos, desta vez, já temos um passado que nos dá algumas lições.
*Prof. associada com agregação da UMinho