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O calendário é contínuo, estejamos bem certos disso, mas não há mal nenhum em nos entregarmos ao ritual e aproveitar a passagem do ano para ensaiar a ideia de que o futuro começa agora.
Foi isso que fizemos quando engolimos as doze passas e esgotámos os desejos, confiando à sorte as possibilidades de um amanhã mais sorridente.
Mas essa carta já foi entregue ao divino ou ao destino, esvaneceu-se como o gás carbónico das borbulhas de espumante e, enquanto o 2016 está fresco, é ainda tempo das resoluções de Ano Novo. São coisas do foro individual, mas deixem-me dar-lhes algumas sugestões que, dependendo só de cada um de nós, podem fazer uma enorme diferença para todos. Haveria mais, mas estas três já fariam de de 2016 um ano memorável.
Comecemos por tentar acabar com o "eles" sempre que nos referimos aos políticos, às finanças, ao Serviço Nacional de Saúde, à polícia, aos professores, ao Estado... Antes de serem "eles", eles somos "nós", por isso mordamos a língua sempre que cairmos nessa tentação de nos colocarmos de fora do que é a nossa vida coletiva. Dessa forma seremos cidadãos mais exigentes, bem cientes de todos os seus direitos, do voto aos impostos que pagamos para aquilo que é nosso.
Apliquemos essa exigência aos que nos governam e nos cuidam, mas também a nós. Façamos, por exemplo, de 2016 um ano sem "cunhas". Muitas vezes recorremos a esse expediente porque achamos que se não o fizermos outros usarão essa vantagem desleal, mas esse comportamento fere de morte a meritrocracia e tira-nos capacidade moral para exigir que as regras sejam cumpridas.
E não esperemos que seja o legislador a explicar-nos o que é certo ou o que é errado em algo tão simples, mas infelizmente tão banal, como utilizar a violência por nos acharmos os mais fortes. Isto vale para os piropos, para as relações com os nossos companheiros, para as crianças, para os idosos, para os animais...
Pois, uma coisa são desejos, outra coisa são resoluções. Estas são só três, mas exigem essa coisa tão complicada de contrariar velhos hábitos arreigados, coisas que por vezes fazemos sem refletir, o que não vale como desculpa. A coragem está mesmo em parafrasear a frase do presidente assassinado em Dallas e dizer "não perguntes ao futuro o que ele pode fazer por ti, mas o que podes tu fazer pelo futuro". Bom 2016.
Subdiretor