Desempregado, precário, mal pago, de partida
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Ensinaram-me na faculdade que o trabalho é algo penoso que se contrapõe ao lazer. A vida tem-me ensinado que sem trabalho não há dignidade nem realização pessoal. Por isso, evocámos ontem, 1.º de Maio, o direito ao trabalho, tendo em mente as centenas de milhares de portugueses privados desse direito. De entre estes destaco os jovens. Estes enfrentam enormes dificuldades no acesso ao mercado de trabalho e, quando o conseguem, são confrontados com uma forte exploração da sua fragilidade: precariedade na relação laboral e baixos salários.
Como professor, contacto quase diariamente com jovens que estão a terminar um curso superior, esperando com isso maior facilidade em arranjarem emprego e poderem usufruir de um salário que remunere devidamente o investimento que fizeram no seu capital humano. A evidência que nos tem sido revelada recentemente não parece indicar que essa expectativa esteja a ser satisfeita. Se é verdade que o desemprego afeta menos os detentores de um grau de ensino superior, já quanto ao salário verifica-se que a remuneração está muito aquém do expectável. Dados do INE indicam que mais de metade dos jovens diplomados ganham menos de 1200euro/mês. Soubemos esta semana que, desde 2011 até ao presente, aumentou em 50% (+82 mil) o número desses jovens que ganham menos de 600euro/mês. Falta saber se estão em ocupações conformes às suas habilitações/qualificações.
Esta situação é grave e preocupante. Portugal apresenta o 5.º nível mais baixo de titulares de grau de ensino superior entre os 34 países da OCDE. Nos últimos anos, registou-se uma recuperação nos escalões mais jovens. Valeu a pena? Sem dúvida que sim, pois o país precisa de eliminar o seu elevado défice de escolaridade, se quer ser mais produtivo e melhorar o seu nível de vida. Mas a situação descrita do mercado do trabalho, em vez de incentivar os jovens a prosseguirem com esse esforço necessário, emite um sinal perverso. Os jovens estão a ser confrontados com um cenário em que têm três opções: desemprego, salário baixo ou emigração. Muitos têm partido, deitando o país a perder o investimento feito na sua formação. Portugal precisa de uma política de crescimento e emprego que estanque esta drenagem de trabalho qualificado que compromete o nosso potencial de crescimento, que por isso nos empobrece e agrava a tendência de envelhecimento da população. A propósito, recordo com preocupação os versos de Rosália de Castro cantados por Adriano Correia de Oliveira no Cantar de Emigração: "Este parte, aquele parte/e todos, todos se vão".