A simples constatação do número torna clara a dimensão do problema do nosso sistema de Segurança Social: sete milhões de euros por dia para acorrer aos desempregados. Multipliquemos pelos meses do ano e registemos a enormidade deste esforço. E dizer que esse esforço tem obviamente de recair nos ombros dos que trabalham não deve servir para alimentar uma nova frente de guerra social entre cidadãos. Mas deve servir para que todas as organizações políticas, económicas, sociais e culturais se incluam no debate que ninguém pode evitar: Que Estado queremos pagar? Considerando que, no nosso modelo social, ainda estamos de acordo, pelo menos maioritariamente, sobre a incumbência do Estado para garantir a todos os cidadãos condições para o exercício dos direitos elementares, entre os quais está certamente o de poder trabalhar.
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Quando no início dos anos 70 do século passado cheguei a Bruxelas, fugido da ditadura e da guerra colonial, pude verificar que a sociedade do bem-estar e até da abundância gerara nessa parte democrática da Europa uma espécie muito especial de desempregados profissionais. E também rapidamente percebi que esse era afinal apenas um custo marginal de uma economia próspera e que tratava de reduzir continuadamente as horas de trabalho para acomodar cada um dos novos pulos tecnológicos e de organização do trabalho proporcionados pela robotização.
Hoje, quando olho para essa época, apetece-me esbofetear os crápulas que em nome da globalização especularam tanto que transformaram alguns bancos em autênticos aterros de lixo financeiro.
Com a crise que se abateu sobre grande parte do Mundo desenvolvido, provavelmente livramo-nos desse capitalismo de casino. Infelizmente com os custos sociais que conhecemos e dos quais o desemprego, em especial o jovem, é uma ameaça crescente ao regime de que nos orgulhamos tanto: a democracia representativa e também redistributiva.
Essa ameaça será tanto maior quanto maior for a tentação de olhar para o todo do esforço da Segurança Social através deste ou daquele desmando ou desperdício. E a pretexto dessa visão deixarmos que cresça a ideia de que a natureza do desemprego é a malandragem. Este tempo do salve-se quem puder é propício a eximirmo-nos a argumentos suportados em dados concretos e fiáveis.
Dito isto, não é improvável que venham a ser cada vez mais os que acabem por preferir o subsídio de desemprego (mais o dinheirito do biscate fora de imposto) aos salários achinesados com que alguns radicais sonham como expediente para colocar a Europa, ou parte dela, numa triste competição direta com outras paragens da globalização governadas por ditaduras.