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O relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que ontem demos a conhecer aponta para 2013 o regresso do emprego aos níveis que tinha antes do início da crise. É bom que não nos iludamos: o horizonte de 2013 só é atingível se, entretanto, a crise económica der sinais de melhoras e se os estados continuarem a ter capacidade para manter medidas de apoio que custam muito caro e que elevam os défices para números pouco vistos. Os défices e as dívidas dos países. Mas parece ser a única saída, dizem os técnicos da OIT.
O que vai acontecendo, a par da perda de empregos, é a perda de qualidade dos empregos que ainda se mantêm. Será pouco importante neste momento, mas, quando chegar a hora da recuperação, é mais um problema que teremos para resolver.
Um pouco por todo o mundo, à depressão generalizada no mercado de trabalho vai-se juntando também algo que tem a ver com os poucos escrúpulos de algum patronato e interesses pouco claros de alguma classe dirigente. Manuel Carvalho da Silva dizia, ontem, ao JN, que está a utilizar-se a formação profissional para esconder desemprego, ocupando as pessoas em vez de as formar para actividades concretas, coisa que bem sabemos corresponder à realidade. É evidente que, sem formação, teremos sempre trabalhadores de pouca qualidade e com salários baixos, pelo que essa aposta, num país como Portugal, não pode deixar de ser insistentemente apoiada. Por outro lado, o peso das pequenas empresas na nossa economia é grande. Muitas delas nasceram da circunstância de os seus promotores se terem abalançado a ter algo de seu depois de se terem deparado com o desemprego. Por agora, necessitam elas também de todo o apoio que lhes puder ser atribuído, embora se saiba que um país pouco poderá progredir quando um terço das suas empresas tem apenas três trabalhadores.
Estamos numa encruzilhada e sem receitas de resultado certo. As previsões da OIT são pouco animadoras e tendem a falhar nos países onde, como é o nosso caso, a economia tem fortes debilidades. É por isso preciso que estejamos politicamente preparados para enfrentar números ainda um pouco piores do que os actuais. O que menos falta nos faz, num momento de crise tão aguda, é uma crise política.
Como se torna cada vez mais evidente, dava-nos jeito ter um árbitro das relações Governo-Oposição. Alguém de voz clara e firme, reconhecidamente independente e acima dos interesses partidários que fosse sinalizando o que lhe parecesse o bom caminho. Sem esse árbitro, o país mergulhará na crise dos interesses partidários, chegará rapidamente a novas eleições, possivelmente com resultados idênticos mas seguramente mais depauperado e exaurido.