Podemos cruzar estudos universitários, barómetros da União Europeia, estatísticas da Segurança Social, análises da CGTP. As conclusões são sempre convergentes. A pandemia agravou desigualdades de género e as mulheres perderam terreno em todas as frentes.
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Foram sobrecarregadas nas tarefas domésticas, mais penalizadas nos rendimentos, estiveram mais em lay-off do que os homens, dominaram em todas as prestações sociais de apoio à parentalidade e assistência a filhos.
Queremos acreditar que os anos de intervenção e de insistência na igualdade tendem a esbater as assimetrias, mas os momentos de crise acentuam a evidência do pouco que se conquistou. A mulher continua a ser a cuidadora que se sacrifica sempre que é preciso recuar. E no plano salarial todos os indicadores demonstram ser inacreditavelmente lenta a aproximação entre géneros.
O tema andará por estes dias no espaço público, a pretexto de mais um Dia da Mulher. Haverá flores, poemas, entradas gratuitas em museus, iniciativas que homenageiam e celebram. Mas não é de palavras de circunstância que as mulheres precisam. É de ações persistentes e globais que combatam de vez a violência silenciosa de uma discriminação que as mantém prisioneiras.
Faltam medidas mais incisivas para promover a igualdade. E falta, sempre porque é o único caminho de mudança, educação para uma cultura de igualdade no sentido absoluto do termo. Uma igualdade que torne irrelevante género, raça, credo ou orientação sexual. Que olhe cada pessoa com a plenitude que ela tem.
Esse respeito integral pelo outro não resulta de impulsos, nem de respostas emocionais em momentos de crise, nem de medidas pontuais para mascarar doenças crónicas. É persistente, contínuo, coerente em todas as esferas da vida em comunidade. Mas, infelizmente, lento no seu efeito transformador.
*Diretora