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Toda a intervenção de cidadania na vida pública do país e do Mundo é acto político, susceptível de uma interpretação politica, não necessariamente partidária. Não sendo a política tema que ora interessa abordar, mas sim a defesa dos valores humanistas, a referência à ideologia de um determinado espectro político é intransponível. A radicalização da extrema-direita prossegue o autoritarismo, o racismo, a xenofobia, um nacionalismo retrógrado, um conservadorismo atávico, é antidemocrática. É inimiga da liberdade, da igualdade, da tolerância, da solidariedade e da partilha dos direitos humanos e da protecção e apoio que o Estado de direito democrático nos proporciona. Sendo tarefas fundamentais do Estado, entre outras, garantir os direitos e liberdades fundamentais, o respeito pelos princípios do Estado de direito democrático e defender a democracia política, assegurar e incentivar a participação democrática dos cidadãos na vida política, social e económica do país, os seus inimigos apoderam-se dos instrumentos democráticos e humanistas para combater e minar a liberdade, a paz jurídica, social e política em que o país convive. A prevenção e o combate legítimo e pacífico ao populismo e demagogia dos arautos da desgraça impõem-se-nos a todos e a cada um de nós, que nos revemos nos princípios estruturantes da nossa vida colectiva, plasmados na CRP, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Carta da ONU. O perigo acrescido da nova roupagem antidemocrática chega-nos, nomeadamente, através do abuso sistemático e insistente da desinformação e da reiteração de inverdades sobre a (in)segurança em que vive o país. Situação que atribuem aos imigrantes que, no seu entender, carregam consigo um aumento da criminalidade mais grave. Esta percepção infiltrada sinuosamente no pensamento de cidadãos torna-se impressiva pelas redes sociais e pela repetição exaustiva da mesma notícia sobre a denúncia de uma qualquer ocorrência criminal. Os “inimigos do povo” fabricam notícias falsas truncadas ou desinseridas da realidade para criar nos cidadãos o medo, a raiva e o ódio por quem nos procura, afinal, para ter um trabalho, reunir a família, levar uma vida condigna baseada na dignidade humana. A Comunicação Social desempenha um papel fundamental na reposição da verdade, da paz e da justiça social, se discutir, ensinar e esclarecer os cidadãos mais vulneráveis à desinformação, da realidade concreta, dos estudos e estatísticas sobre essa tal criminalidade conexa à imigração. É fundamental prosseguir uma política de imigração legal, adequada e necessária, sem usar meios próprios da inquisição para os que já cá estão, ainda que ilegais. Lutar pela liberdade e pela dignidade humana impõe-se nesta fase de crescendo autoritário. É a democracia que está em jogo. Compete-nos defendê-la, reforçá-la e expandi-la.
A autora escreve segundo a antiga ortografia