No filme que retrata a sua vida, Cristiano Ronaldo lembra que, num jogo de futebol, alguém tem de ganhar e alguém tem de perder. Esta é uma daquelas evidências que, de tão simples, se espera não oferecer dúvidas aos participantes na contenda. Joga-se, porque se ama o jogo e se respeitam as regras escritas. Também na política se vai a eleições, porque se ama o país. Infelizmente, parece que parte dos atores do pós 4 de outubro, quiçá porque o resultado não lhes agradou, está prestes a desistir.
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O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, percebeu por fim que, por vontade da Assembleia da República (AR), haverá uma nova solução governativa em Portugal. Que a mesma não seja do seu agrado, parece-me absolutamente normal. Que, no combate político-partidário, se exceda aqui e ali na defesa das suas ideias, parece-me compreensível. Agora, já não é admissível declarar, em entrevista à RTP, que, quando o PS precisar dos votos do PSD ou do CDS para aprovar alguma matéria importante, o líder socialista se deve demitir e pedir desculpa ao país, sugerindo que os votos dos seus deputados não estarão disponíveis.
Por sua vez, o presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, apesar de ter declarado em tom solene que estava preparado para todos os cenários pós-eleitorais, enredou-se num emaranhado de declarações contraditórias que tem deixado partidos e analistas estupefactos perante a ausência de uma linha clara de atuação. Depois de traçar uma barreira ideológica que pretendia excluir da governação partidos que representam um milhão de eleitores, Cavaco Silva viu a sua opção de Governo ser rejeitada na AR. Pouco feliz com o desfecho, lançou-se num processo de antijogo, como que a queimar tempo, paralisando as instituições e colocando o país na incubadora.
O que há de comum entre Passos e Cavaco? Ambos julgam que os partidos da Esquerda não estão de boa-fé no jogo político. Que não querem o bem do país e o sucesso da governação. Como se essa crença fosse um monopólio da Direita. Mas o pior é que, achando isso, decidem abandonar o barco, demitindo-se das suas responsabilidades, desistindo do país.
A uma Direita que se aproxima perigosamente do grau zero da política só lhe resta sair da política. Cavaco está já a prazo e tudo faz para não deixar saudades. Passos Coelho deveria, ele sim, apresentar a sua demissão e dar lugar a quem dignifique a participação do PSD nos desafios que Portugal tem pela frente.