Corpo do artigo
Esta é provavelmente a crónica em que eu bendigo, cobardemente, o que sempre critico: a pouca importância que nos dão enquanto clube de futebol. Detestaria, agora, que falassem do meu clube horas a fio em programas de TV, analisando o seu momento desportivo. Agradeço esse reconfortante anonimato.
O jogo de Famalicão foi, mais ou menos, como o jogo de Alverca. Tentamos fazer qualquer coisa parecida com futebol e não conseguimos. Nem por sombras. Não faltou atitude, faltou classe e faltou inteligência. Dois valores básicos que tornam o futebol um jogo interessante. Há quem prefira barafustar, eu prefiro esquecer. Esta época afigura-se penosa. E quem, como nós, tanto gosta da sua equipa, a atual ausência de um futebol minimamente articulado e consequente é, jogo a jogo, um verdadeiro suplício.
A minha equipa é uma equipa deslustrada, embaciada, sem ideias, sem consequência, precisamente quando a ilustração tomou conta da cidade. A BIG, Bienal de Ilustração de Guimarães, dá-se a ver com uma curadoria impecável. Em cinco espaços diferentes podemos sentir o poder da ilustração, precisamente quando a nossa equipa não tem ilustração nenhuma. A exposição da Sociedade Martins Sarmento é magnífica. Nela se mostram cartazes de cinema que nos atiram para um tempo em que eles eram sobretudo, além de publicitários, uma afirmação estética. Esses cartazes de cinema, desenhados por artistas polacos, nas décadas de 60 e 70, subvertem de forma criativa os cartazes que muitos desses filmes tiveram a ocidente. O cartaz do filme Boom, de Losey, transforma a explosão em elegância. O mesmo desejaria para o meu Vitória.

