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Para ser competitiva, uma região necessita de conseguir inscrever no todo nacional as suas prioridades e ainda com maior acutilância quando se vive num país centralista. Para isso são precisas opções bem definidas e lideranças unificadoras que equilibrem a mesa da negociação. É isso que o Norte não tem tido.
O episódio em torno da demissão do presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), Emídio Gomes, com autarcas contra autarcas por uns trocos na mesa dos fundos comunitários, é só o evento mais recente de uma polifonia com alguns barítonos, mas sem capacidade para orquestrar um coro que fale claro nos momentos importantes.
Só por ironia do destino Emídio Gomes termina o seu mandato numa disputa com o poder central. Ele até começou com uma estratégia bem interessante de afirmação dos interesses do Norte, procurando uma aliança com o Centro, que terminasse com a dicotomia Porto-Lisboa na definição dos investimentos estratégicos. Mas esse assomo de liderança, de confronto com o poder central, terminou com a desconvocação à pressa de uma reunião entre protagonistas das duas regiões. Lisboa falou mais alto.
Emídio Gomes, infelizmente, nunca conseguiu interpretar devidamente o difícil papel que tem um presidente de uma comissão de coordenação que, sendo escolhido pelo Governo, interpretando diretivas dadas pelo ministro da tutela, vivendo com os espartilhos da União Europeia, tem de representar os anseios dos únicos eleitos que lhe são próximos, os autarcas. São eles os representantes da população que dão ao presidente da CCDR-N uma força própria e é nesse sentido que vai a reforma proposta pelo atual Governo.
Governo que também mostra uma notável capacidade para a incoerência. No dia em que, na conferência do JN, o ministro Eduardo Cabrita enunciava a tal reforma descentralizadora que dá mais poderes a autarcas e populações, outro ministro, Pedro Marques, demitia o presidente da CCDR-N por este não acatar o acordo paralelo que ele mesmo tinha feito com quatro municípios da região e que ignorava os procedimentos com que se tinham distribuído verbas pelos restantes 22.
Até se entende que os três presidentes da Frente Atlântica mais Gondomar tenham procurado usar o seu peso para negociar mais fundos para os seus municípios. Percebe-se pior que o Governo aceite este jogo e que estes mesmos autarcas não percebam que, com este tipo de atitude individualista, perdem qualquer hipótese do Norte se afirmar a uma só voz.