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O meu filho Miguel trabalha numa grande consultora. Licenciou-se em gestão e é recém-mestre em economia. Se um dia eu soubesse que ele despedira pessoas por videochamada, sem lhes dar oportunidade de coisa alguma e cortando de imediato o acesso a qualquer rede da empresa, certamente que lhe perguntaria o que tinha eu feito de tão errado. Não é uma prática original, os casos multiplicam-se por todo o lado. Esta semana foi aqui, numa multinacional de call-centers, a Teleperfomance. O CEO da delegação portuguesa, com escritórios em Lisboa, Covilhã e Gaia, informou 240 pessoas que, no instante em que a sua cara desaparecesse do monitor, já não teriam qualquer relação com a empresa. Agradeceu o trabalho, desejou boa sorte, cortou a possibilidade de ouvir qualquer pio por parte dos pobres diabos e foi almoçar que isto de despedir malta por vídeo é bem capaz de dar uma fome do caraças. Eu já despedi pessoas. Faz parte quando se assumem responsabilidades, é um processo terrível, ingrato e de que nunca se sai bem. Estragamos ou adiamos a vida de pessoas concretas, de gente de carne e osso que nos passa a odiar, que é agressiva, que nos confronta e se defende. Mas é assim mesmo, temos de fazer a nossa parte, beber o cálice de veneno até à gota derradeira, dar a cara, ter coragem, ser gente. Despedir 240 pessoas por vídeo é bárbaro e de uma cobardia sem limite. De uma total e irremediável ausência de empatia, de respeito pelo outro e também por si próprio, mas isso eles não sabem. Aconteceu esta quarta-feira em Portugal.