Depois do folhetim à volta da aprovação do Orçamento, outro está a começar. Saber se vão existir, ou não, condições para executar o documento alimenta páginas dos jornais e horas de comentário político. Pena é que não se fale do essencial.
Corpo do artigo
Em Portugal, o Estado gasta muito mais do que aquilo que recebe, encontrando-se, por isso mesmo, em défice. Os juros a que se compromete pela dívida que vai emitindo são cada vez maiores. O endividamento dos privados e das empresas supera aquilo que se produz. As perspectivas de crescimento da economia para os próximos cinco anos são muito baixas. A competitividade da nossa economia é fraca, por variadas razões, entre as quais as faltas de condições para o investimento. As reformas estruturais não existem.
Infelizmente, a verdadeira realidade é bem dura. Por razões externas, mas essencialmente internas, estamos em dificuldades e ninguém espere que as mesmas não se mantenham pelos próximos três anos. Esta situação de urgência nacional exige estabilidade política. Não é possível sair deste pesadelo sem duras medidas de ajustamento. A necessária diminuição da despesa pública terá de passar ou pela diminuição dos salários, ou das despesas sociais, ou dos consumos intermédios. Não é possível manter o discurso das maravilhosas virtualidades do avultado investimento público em infra-estruturas materiais. Para isso será necessário encontrar uma solução de Governo que envolva de forma activa os três partidos de Governo. Só com PS, PSD e CDS no memo barco, Portugal poderá, com o tempo necessário, resolver os seus problemas.
Apenas dessa forma se poderão fazer as reformas necessárias para o crescimento. As áreas da Justiça, Educação e Economia têm de sofrer alterações de fundo. As alterações necessárias para a flexibilidade só podem ser feitas com um amplo compromisso político. Se assim não for e continuarmos num mundo de falsos sonhos, o pesadelo tornar-se-á, cada vez, mais real e as suas consequências serão imprevisíveis.