António Costa, em abril e em plena pandemia, avisou que as "despesas do Estado hoje são impostos amanhã". É bom lembrar esta frase vezes e vezes sem conta porque os cerca de 10 mil milhões de euros de défice previstos para o Orçamento do Estado para 2021, a juntar aos 7 mil milhões deste ano, terão de ser pagos.
Corpo do artigo
Sim, é verdade, não haveria grandes hipóteses de o Governo não conseguir responder com mais despesa perante tempos excecionais, de forma a conter uma economia completamente contaminada pela covid.
A preocupação de continuar a estimular o consumo das famílias é mais do que evidente neste Orçamento. Um aumento de 23,75 euros do salário mínimo e outro de 60 euros para os subsídios de desemprego de pessoas que ganhavam o salário mínimo, entre outras medidas, demonstram a preocupação do Governo em manter os portugueses com algum nível de compra com o objetivo da economia não colapsar. Como seria de esperar, os setores da Saúde e da Educação são também apostas certas na fatia de Leão orçamental. Se bem que grande parte delas sejam promessas antigas de outros orçamentos sem covid. Por outro lado, os empresários queixam-se de falta de apoio ao aparelho produtivo. Sim, é verdade. Não há novos incentivos fiscais ao investimento ou à criação de emprego, mas tentar manter os portugueses a consumir ajuda indiretamente o setor privado. Convém lembrar que é um Orçamento do Estado e que não resolve todos os problemas do país. Assim como o défice de agora poderá ser pago nos anos vindouros com impostos, também o alívio mascarado de IRS, através da descida da retenção na fonte, dará uma sensação de que, apesar da pandemia, os salários irão crescer. Enquanto o pau vai e vem, folgam as costas, já dizia o meu avô. É bom que ganhemos tempo, porque será a linha ténue entre cair-nos nas costas uma vergastada de vime ou uma moca de pregos. Faz toda a diferença. A esperança é que, no futuro, venham só umas vergastadas.
Editor-executivo