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1. Nunca os portugueses pagaram tantos impostos. Não seria preciso invocar as estatísticas oficiais para chegar a esta conclusão, uma vez que os portugueses sabem bem que, nos últimos anos, foram cada vez mais os dias que sobraram ao fim do mês. Mas, para o caso de alguém ainda ter dúvidas, é o INE quem o diz, preto no branco: no ano passado, a carga fiscal foi de 34,5% do PIB, o valor mais alto em quatro décadas de democracia. Como dizia Miguel Cadilhe, no auge da crise, mas ainda antes do pico do saque fiscal, não é carga, é sobrecarga. E isso explica, pelo menos em parte, a desconfiança generalizada quando alguém vem sugerir que se aumente ou crie impostos, como fez Mariana Mortágua, a flamante deputada do Bloco de Esquerda. Ainda por cima recolhendo o aplauso de uma ilustre plateia socialista, ou seja, perante os que têm neste momento o poder de apertar ainda mais o garrote. À intolerância fundamentada dos portugueses acresce que esta deve ter sido uma das formas mais destrambelhadas de sempre de defender novos impostos, o que não ajuda a manter a serenidade. Tão destrambelhada que obrigou, por um lado, a deputada bloquista a vir esclarecer que não sugeriu taxar as poupanças, antes a riqueza; e, por outro, obrigou o PS a mudar rapidamente o patamar mínimo do novo imposto sobre o património de 500 mil euros para um milhão de euros, à boleia, acrescente-se, dos comunistas, os primeiros a colocar água na fervura.
2. Nunca os portugueses pagaram tantos impostos. E, portanto, a desconfiança do cidadão comum tem toda a razão de ser. Acontece que nada disto justifica a campanha trauliteira que, nos últimos dias, vem sendo protagonizada quer por alguns dos assalariados do PSD e do CDS, quer pelos comentadores que gravitam na sua órbita. Em primeiro lugar, por uma questão de memória. Se é verdade que os portugueses nunca pagaram tantos impostos, não é menos que a maior subida da carga fiscal se fez por decisão dos partidos de Direita. Ou já se esqueceram do brutal aumento de impostos provocado pelas mexidas nos escalões e pela sobretaxa de IRS, esse sim, com um efeito devastador para a classe média? Em segundo lugar, por uma questão de vergonha. Ou já se esqueceram que, em vez de procurar tributar o património e a riqueza (como aliás sugeriu o ex-ministro das Finanças do PSD Miguel Cadilhe, esse perigoso marxista), PSD e CDS optaram por cortar salários a eito, por castigar os desempregados e os doentes, por sacar as pensões aos velhos (e só não foram mais fundo porque o Tribunal Constitucional não deixou) e por tentar subir a taxa social única dos trabalhadores para valores pornográficos (e aqui foi o povo na rua que não deixou)?
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