Os desafios da União Europeia (UE) - quer ao nível da credibilidade, quer no que diz respeito ao seu peso político no panorama internacional - têm uma génese endógena e exógena. Dito de outra forma, os problemas que as 27 nações da UE enfrentam tanto vêm do seu interior, com especial destaque para as posições díspares sobre o reconhecimento da Palestina (condicionadas por calendários eleitorais e relações económicas com Israel), como do exterior. Quanto a este último aspeto, a imposição de tarifas por parte dos EUA e o papel preponderante de Donald Trump nas negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia deixam transparecer a ideia de que os líderes europeus andam à procura do seu próprio papel nos corredores diplomáticos.
Como se diz no futebol, o que hoje é verdade, amanhã pode muito bem ser mentira. A culpa é dos próprios protagonistas políticos. Há um verdadeiro triângulo dinâmico e resiliente (a sua consistência é inconstante e volta muitas vezes à forma anterior) entre Donald Trump, Vladimir Putin e Xi Jinping. Ao contrário do passado, os EUA preferem agora aproximar-se da Rússia para travar a progressão e influência económica chinesa. Henry Kissinger, ex-secretário de Estado norte-americano, fazia o inverso nos anos 60 e 70 do século XX. Atualmente, os interesses dentro daquele triângulo são, por vezes, coincidentes. Tanto Putin como Trump querem aproveitar as riquezas naturais da Ucrânia. Por outro lado, os EUA precisam do conhecimento e da mão de obra dos chineses para manter vivas importantes empresas norte-americanas, daí que as tarifas tenham sido atenuadas no que diz respeito à tecnologia. No entanto, esta relação triangular comporta também conflitos de interesses. Em suma, os europeus podem muito bem perguntar "e então onde estamos nós?".
O facto de a UE representar uma amálgama de estados não facilita, quando temos interlocutores como Trump. Ele prefere falar com líderes que defendam interesses nacionais. O cenário só mudaria se a presidente da Comissão Europeia tivesse uma autêntica legitimidade democrática. Nesse caso, Trump e outros interlocutores levariam o seu discurso mais a sério.

