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Oano de 2015 já ficou para trás, mas o novo ano de 2016 arranca com alguma incerteza em relação à capacidade do Governo de António Costa fazer face a casos como o Banif. A situação é insuportável e a assunção de que tudo é possível sem responsáveis faz parte do nosso dia a dia. O caso do Banif, assim como o BES, BPN e BPP sobram sempre para os mesmos portugueses.
A política portuguesa continua indecente e a bronca do alçapão Banif só permite invocar a grande palavra - silêncio.
É uma desvergonha, imoral e comprova que não há limite para a degeneração da política e dos seus atores. Esta indecência não foi só corromper bens mas o abuso de confiança e má-fé.
O âmago da política é a falta de consciência dos direitos dos outros e não ter cuidado nas decisões que têm que ver com as pessoas e interferem nas suas vidas. É fundamental saber que num governo, num banco, há do outro lado pessoas que têm uma vida.
Não há governo que aguente um Banif, como não há governo que aguente um BES. A dificuldade de nos endireitarmos está relacionado com a má frequência de quem detém o poder quer político quer económico. Somos um país muito mal frequentado. Nunca há responsáveis e são tão enganadores que conseguem enganar até o próprio espelho.
Um mundo de mentirosos, fantasmas, odiosos, falsificadores e mascarados. Um mundo assim só apetece chorar de raiva.
Os portugueses estão estupefactos, resignados, infelizes, vencidos, desolados, com uma vida difícil sempre encharcados de suor, convertidos em carne para canhão.
Os portugueses são vítimas dos resultados catastróficos das decisões da nossa democracia. É um processo calamitoso - a democracia e buracos como o do Banif não são compatíveis.
O abuso, a soberba, a falta de prestação de contas, fazer ouvidos moucos, não haver culpados e ninguém pagar pelo que decide e faz - tudo isto é uma desvergonha e mina a relação política-cidadãos a um ponto tal que já não valem as boas palavras.
Fica provado, mais uma vez, que a nossa democracia e os seus processos estão desatualizados. São rígidos, muito processuais, opacos e resistentes.
Infelizmente, é por acontecimentos destes que a reputação da política é baixa e isso terá um custo no futuro.
* FUNDADOR DO CLUBE DOS PENSADORES