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Os jovens querem ser "ouvidos, reconhecidos, acompanhados" pela Igreja e pretendem que a sua voz seja "considerada interessante e útil no campo social e eclesial", diz o documento final do Sínodo dos Bispos.
Em Roma, com humildade, os bispos reconheceram que, tanto eles como os padres - sobrecarregados com inúmeras atividades - não encontram tempo para acolher e escutar os jovens. Verificaram, porém, que Deus desafia a Igreja pela juventude. Esta é portadora de uma "santa inquietude" que, em determinadas circunstâncias, pode estar até "mais à frente dos pastores". Graças ao dinamismo juvenil, a Igreja é incitada a renovar-se.
O Sínodo dos Bispos reconheceu também a necessidade de dar à mulher e aos leigos um maior protagonismo na Igreja, incluindo-os nos processos de tomada de decisões. Não abre, contudo, a possibilidade da ordenação, seja presbiteral ou diaconal, das mulheres.
Esta última reunião de bispos vindos de todo o mundo foi também marcada pela questão dos abusos sexuais, a que o documento final dedica três parágrafos. Os bispos, depois de condenarem todo o tipo de abusos ("de poder, económicos, de consciência, sexuais"), comprometem-se a falar a verdade, a não os escamotear e a pedir perdão pelas falhas. O sínodo deixa um apelo ao "firme compromisso com a adoção de rigorosas medidas de prevenção que impeçam o repetir-se dos abusos, a partir da seleção e da formação daqueles a quem serão confiadas tarefas de responsabilidades e educativas".
A discussão em torno da sexualidade voltou a ser controversa. Apesar de, contrariamente ao que aconteceu no anterior sínodo, todos os parágrafos terem obtido a aprovação com a maioria qualificada de dois terços, o parágrafo 150 foi o que teve o maior número de votos contra (65 contra e 178 a favor). Nele se recomenda que se favoreçam os "caminhos de acompanhamento na fé, já existentes em muitas comunidades cristãs", de "pessoas homossexuais".
O documento de preparação do sínodo - o "Instrumentem Laboris" - ficará para a história como o primeiro texto oficial a incluir a sigla LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais). O documento final não inclui essa designação, dada a reação de muitos bispos que se manifestaram contra o que poderia parecer uma aceitação da teoria de género pela Igreja. Daí que o sínodo tenha reafirmado "a determinante relevância antropológica da diferença e reciprocidade homem-mulher e considera redutivo definir a identidade das pessoas com base unicamente na sua orientação sexual".
Para além das questões polémicas, é de realçar o destaque que o documento deste sínodo deu ao "acompanhamento" das pessoas, valorizando nesse processo os contributos da psicologia e da psicoterapia, desde que com abertura à transcendência.
No encerramento do sínodo o Papa Francisco sublinhou que o documento tem de ser "rezado e estudado". Nele, as diferentes conferências episcopais são desafiadas a corresponder à exigência dos jovens serem acompanhados e escutados, sem "moralismos" nem facilitismos.
*PADRE