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O século XXI prometeu ser o tempo em que a Europa aprenderia a não repetir os seus erros. As cicatrizes do século passado deveriam servir como um escudo contra a barbárie, como um lembrete de que há certas fronteiras que a civilização não pode cruzar sem se perder. E, no entanto, aqui estamos: a Alemanha vê a ascensão de um partido que flerta, sem pudor, com os espectros do nazismo.
O que espanta não é apenas o crescimento da AfD, mas a natureza do seu avanço. Não se trata mais de um movimento subterrâneo, marginal, resmungando ressentimentos nas sombras. Agora, é parlamentar, estruturado, votando e legislando. O que antes era um sussurro proibido tornou-se um grito autorizado. Matthias Helfrich, o homem que um dia se descreveu como o “rosto amigável do nacional-socialismo”, não apenas encontrou abrigo na AfD, mas também recebeu um convite para integrar a sua bancada parlamentar.
O fascismo contemporâneo não surge vestido de uniforme ou marchando ao som de tambores. Ele acena para as câmaras, sorri para os eleitores e diz que quer proteger a “cultura e a identidade nacional”.
O crescimento da AfD é, ao mesmo tempo, um sintoma e um presságio. Sintoma de um Ocidente que falhou em educar as novas gerações sobre os perigos do extremismo. Presságio de uma Europa que pode estar prestes a abrir novamente as portas para aquilo que um dia prometeu banir para sempre.
A Alemanha, mais do que qualquer outro país, conhece os perigos de permitir que o inaceitável se torne aceitável. Ela aprendeu, da pior forma, que não se deve tolerar o intolerável. Será que a lição foi esquecida?
E agora? Agora, resta saber se a democracia alemã resistirá ou se, mais uma vez, ficará em silêncio quando o inominável bate de novo à sua porta.