1. Os tempos estão para coisas claras: sim ou não. Os portugueses vão ter a oportunidade de dizer a 24 de Novembro, dia da greve geral, se estão dispostos a aguentar os cortes ou se também preferem caminhar para o caos. Se o seu líder é uma certa espiral radical de Carvalho da Silva e de Louçã, com a sua imbatível retórica que desemboca sempre no "social" e nos "direitos adquiridos" que ninguém quer financiar mais, ou um país real que percebe que a economia mudou.
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É certo que há medidas absolutamente estúpidas neste Orçamento. Mas as batalhas têm de ser geridas com foco e utilidade. Uma a uma. Recusando-se uma coisa e propondo outra, melhor. Comparando com o que se passa fora de Portugal. Percebendo que a economia é global, gostemos ou não.
Parar o país, nesta altura, pode parecer uma boa válvula de escape mas o dia seguinte vai ser igual ou pior. A renegociação da dívida portuguesa far-se-á mais pelos resultados macroeconómicos (bons ou maus) do que pela contestação nas ruas. Que, aliás, só prejudicará a imagem do país.
Os portugueses, como os gregos, não aceitam os cortes e percebe-se porquê. Mas é tarde. O dinheiro foi gasto. Por isso tiro o chapéu ao primeiro-ministro grego pela coragem e loucura. Só um referendo permite ter a verdadeira opinião dos gregos quanto ao seu futuro depois das ruas de Atenas estarem a ferro e fogo. Na verdade, os protestos são feitos pelos "gregos" ou pelos loucos do costume? É o que vamos saber. E também se querem o euro e os empréstimos.
2. Há uma coisa, entretanto, que nos separa radicalmente da Grécia. É um país que vive no meio do Mediterrâneo, com grandes possibilidades de se homogeneizar com as economias em redor. Que tem uma tradição nacionalista incomparável à nossa. Uns amigos vieram da Grécia há dias espantados. Para os gregos o problema é da Europa, que lhes emprestou dinheiro a mais. Agora, que tratem do assunto, que eles não querem pagar.
Mas Portugal, fora do euro, seria o quê? Não acabaríamos como país, mas sofreríamos mesmo muito. E só não seríamos a "Albânia" se connosco saísse a Espanha e a Itália. Mas, nesse caso, viveríamos ainda mais pobres pelo menos na próxima década porque a derrocada da Europa será gravíssima. O caminho da emigração e da fuga de capitais seria ainda mais forte. Pobreza pura e dura. Repito: não é o fim do Mundo. Há alternativas. Mas ela traduz-se em muita fome e desemprego durante uma ou mais gerações.
3. Portugal comprou ontem mais 1,244 milhões de euros, por três meses e meio, a quase 5% de juro. Saberão os portugueses o que isto significa? Quem emprestou? Para onde vai este dinheiro? E o restante, que chega silenciosamente por via informática aos cofres do Estado? O Estado "exige", na infinita moral do direito das pessoas que dele dependem, dinheiro fresco. Dos impostos ou comprado em formato de dívida. O dinheiro destina-se a funcionários, pensionistas, doentes, transportes, etc... Daí o défice. Há uma solução indolor para resolver isto? Infelizmente ninguém descobriu até agora uma solução mágica.
4. Para se ter ideia do que significa, deixo apenas a imagem da "Economist" sobre a "torre do terror" - dívida que chega ao céu... O que é? A dívida (por ordem crescente) irlandesa, portuguesa, grega, espanhola e italiana. Chega aos 1,25 milhões de milhões euros. O dinheiro agora colocado no fundo europeu para evitar falências dos estados e dos bancos dá para aguentar algumas coisas, mas não suporta tudo. A Itália sozinha vale tanto como Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia... Percebem o que pesa a Europa do Sul? Berlusconi vai ser posto a andar, Zapatero já foi. Sócrates também, Papandreou seguirá o mesmo caminho. Não foram só eles que acumularam tanta dívida. Mas os eleitores não assacam culpas a si mesmos quanto às más escolhas. E infelizmente não sabem ainda a coisa mais importante: que nenhum político gera crescimento económico sem que os seus cidadãos acreditem no seu país e vejam uma saída. São as circunstâncias que fazem os políticos e raramente o contrário...