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Assistimos à degradação das Instituições e dos serviços públicos, à inversão dos valores e prioridades para Portugal. Por estes dias, neste país considerado desenvolvido, há relatos de falta de vacinas essenciais para as crianças. Os lares estão sem vagas e a falta de condições retira a dignidade humana à pessoa idosa.
Já os jovens eternizam a condição de juventude num país que cria entraves para a sua consagração como adulto. A precariedade perdura e os salários baixos não acompanham o valor acrescentado da geração mais qualificada de sempre.
Exportamos talento gratuito, depois de investirmos o dinheiro dos contribuintes na educação superior. Não há casas para viver a preços que possamos pagar. Sem suporte parental e sem dinheiro, o direito ao futuro está hipotecado.
O contrato social de progresso e justiça entre gerações foi rasgado. A incapacidade que os decisores manifestam em assumir compromissos para as reformas que Portugal grita, o milagre das soluções fáceis para problemas complexos e a ausência de interlocutores fortes por mais direitos sociais e económicos das novas gerações vitimizam as democracias liberais e dão força ao populismo.
Amanhã assinala-se o 10 de junho. É dia de celebrar Portugal. Mas que motivos há a celebrar no Portugal de hoje?
Recordo o soneto de Camões "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", que facilmente transportamos para o presente, por aludir à desilusão das mudanças dos tempos, às esperanças não correspondidas e ao bem quase inexistente. Tomemos o exemplo do poeta, que tinha medo de que tudo ficasse na mesma. Sejamos críticos e inconformados para que este tempo sombrio não esvazie a pouca esperança que ainda vive em nós.
*Presidente da Federação Académica do Porto