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Há cerca de uma semana a Península Ibérica foi vítima de um apagão na sua rede de abastecimento de energia.
Por um momento, em Portugal, todos nós voltamos a sentir dificuldades ainda mais impactantes do que as obtidas em tempo de pandemia, sem acesso a comunicações móveis e de dados, sem os quais parece que ninguém consegue ou sabe agora viver.
Durante o processo que durou o apagão fomos tendo notícias pela velha rádio. Enquanto existiram dados, tivemos acesso a muita contrainformação ou aquilo que alguns preferem chamar “fake news”.
Tivemos uma corrida aos supermercados, mais uma vez com destaque para a água e o papel higiénico, e as televisões a fazerem reportagens que ninguém iria conseguir ver.
Ultrapassada a crise energética e afastado o ataque cibernético russo, ficava a pronta resposta do nosso Governo e a sempre atenta postura crítica da Oposição.
Era evidente que estamos em tempo de campanha eleitoral e ninguém podia ficar de fora nas críticas ao SIRESP, à privatização da REN e da EDP e aos falhanços no SNS.
Poderemos procurar aprender alguma coisa com este apagão que partilhamos com Espanha. A nossa soberania energética tem dias e as nossas infraestruturas não estão preparadas para emergências ou situações de crise, como foi o caso.
A este propósito gostaria de salientar, passe a publicidade, uma série produzida pela Netflix, cujo protagonista é Robert de Niro, curiosamente chamada “Day zero” e onde estes aspetos são preocupantemente evidenciados. Como cá, também lá vai haver um apagão nas redes de energia, porque antes houve um ciberataque terrorista, e tudo isto num ambiente de teoria da conspiração. Uma conspiração ao mais alto nível do Governo dos EUA, parecendo antecipar algumas das derivações da atual Administração da Casa Branca.
Uma outra conclusão da série é a constante manipulação das redes sociais e dos média geralmente apoiadas em fontes geralmente bem informadas.
As semelhanças acabam por ser meras coincidências, mas abrem a porta à nossa dúvida e à nossa curiosidade.
Este apagão mostrou a nossa vulnerabilidade, permitiu avaliar como é reduzida a nossa soberania energética, como não temos um sistema de comunicações apto e a total ausência de operacionalidade da nossa Proteção Civil e a ausência das nossas forças de defesa.
No fundo, resta-nos aquilo que um dos personagens da série afirmava: que existem coisas mais importantes do que a verdade. Esse é mesmo o nosso novo tempo onde a coragem da verdade parece faltar e a chantagem da mentira parece abundar.
Vamos então ao mês de maio que será mesmo um mês importante. Vai ser eleito um novo Papa, vamos ter um novo Parlamento e com um inerente novo Governo e o campeonato vai acabar.