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Percebe-Se melhor o imbróglio político a que chegou o regime brasileiro, uma amálgama labiríntica e ingovernável, se se conhecer estes números: a câmara baixa do Congresso Nacional brasileiro é composta por deputados de 28 partidos; na câmara alta, o Senado Federal, estão representadas 16 forças políticas; e o Governo brasileiro tem 39 ministérios. Como governar, decidir ou legislar neste mastodôntico sistema, que só pode favorecer quem está disposto a atalhar, a omitir, a ultrapassar? É o resultado de muitos anos de meticulosa construção de redes de dependências, de favores que se cobram e de abraços que envolvem os cúmplices, de porta fechada, num aperto quente e aconchegante, seguro e protetor. Para quem está lá em cima, nem o céu é um limite. Se for possível, que também se ajude quem esteja por baixo, mas se não for, que importa? Quem interessa já se ajudou e para a próxima será a vez de outros, sempre os mesmos. Uns saem sempre por cima, a maioria nunca sai de baixo. É difícil de perceber que Lula tenha atirado para o lixo uma vida de sacrifício e prestígio políticos, tão difícil quanto aceitar que um juiz, ainda para mais responsável por uma investigação tão sensível, tenha violentado a privacidade da chefe de Estado de forma tão ligeira. O Brasil, país impossível de tão cheio de maravilhas, não merecia. Se Deus é brasileiro, desconfio que o diabo, mal o soube, rapidamente se naturalizou.