<p>P - Conhecemo-nos?<br />VD - Sou o coronel V, e trabalhei muito tempo no departamento do SVR (serviços secretos externos) para o Cáucaso do Norte.</p>
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P - O que é que sabem sobre os atentados em Moscovo?
VD - Foram reivindicados no endereço "Hunafa", que é hoje o principal órgão do que os militantes "jihadistas" chamam "Imarat Kavkaz", ou "Galgyachy Vyalat", o novo "emirato do Cáucaso"…
P - Creio que "Hunafa" é o plural de "hanif": "os que comungam a religião certa"…
VD - Sim. São salafistas, e dedicam-se a lutar contra os governos "apóstatas"…
P- Mas o sítio electrónico de "Hunafa" não é no Cáucaso…
VD - Evidentemente. A rede é administrada através de Arlington Heights, nos EUA, e Helsingborg, na Escandinávia, através de um tal "Ivan Petrov", que também está ligado ao endereço-mãe "ik.media"…
P - Claro que o Ocidente não pode proibir expressões de opinião política e ideológica, mesmo radical ou violenta…
VD - O problema é que estas pessoas fazem mais do que isso. Começo por lhe dizer com franqueza que - se calhar até pela minha idade - não sou um fã da nossa liderança. A Rússia devia familiarizar-se, sem medo, com a verdadeira liberdade de informação. Tivemos promessas - perdidas - durante o tempo de Ieltsin. Mas essa é outra história. Dizia-lhe que os homens por detrás destes endereços apelam à morte, à morte colectiva, e à morte de civis, que chamam sempre "infiéis".
P - Mas não acha que há uma reacção em espiral à forma como alguns dos vossos serviços (FSB, MVD) conduzem as operações na Chechénia e na Inguchétia…? A brutalidade não gera monstros?
VD (olhando fixamente) - Acho que cometemos muitos erros trágicos, e crimes, no Caúcaso, e há muito tempo. Não temos muitos responsáveis que compreendam o problema. Na área, há desespero, corrupção, desemprego, miséria. Mas ao lado desta nossa fraqueza, e impreparação, cresce o monstro que você refere. Já não é uma questão de "libertação nacional". Os centros de comando (aliás muito competentes) desta "guerra santa" agravam ainda mais o abismo.
P - Em suma, a Rússia precisa de ajuda?
VD - Não tenho dúvidas disso, diga o que disser o Kremlin. Mas precisamos sobretudo de não responder ao terror com o terror. Juraram-nos que tínhamos sepultado esses métodos com o carniceiro Estaline.
* Algures na Europa