Diário de um consumidor (ir)responsável
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Estou tão triste... vou comprar aquele top!
Quero-o tanto, mas nunca consegui comprar porque estava demasiado caro. Com os saldos, o mundo é a minha ostra.
Saio do shopping com três saquinhos.
Estou tão feliz agora! Não há nada como comprar coisas para mandar a tristeza embora!
Isto podia ser efetivamente um monólogo interno, e certamente é o de muitas pessoas. Com certeza, muda ligeiramente consoante os nossos gostos, mas acredito que a essência é a mesma.
O seguinte também é verdade: cortar a etiqueta e usar algumas vezes. Pode até ser que se tornem itens reusados em múltiplas ocasiões, ou pode ser que aconteça o típico chegar a casa, pendurar, e passado uns dias perceber que afinal não ficava assim tão bem, que não combina com muita coisa, e de repente a adrenalina da compra passa e a tristeza reinstala-se.
O ciclo repete-se tantas vezes quantas as possíveis, dependendo do poder de compra de cada um. Ilustra perfeitamente a felicidade de comprar, e o tédio de possuir, efeito sem o qual o ciclo de moda não existiria da forma como o conhecemos.
Estamos rodeados de modas, pequenas coisas que causam furor, vergonha alheia, confiança. O sentimento depende um pouco de pessoa para pessoa. Acho que todos nos lembramos das Stanley cup, cujo lugar é ocupado pelo Nespresso Cup Tumbler; dos Bobbie Goods, que foram o hobby de eleição em março, mas cuja popularidade tem baixado; e agora, os Labubu (aqueles bonecos claramente maléficos). O meu ponto é: não se trata só de roupa, trata-se de uma estética que necessita de uma espécie de gadgets associados.
Falando em gadgets associados, há uns tempos essa também foi uma trend: pedir à AI para criar uma figura de ação nossa com os gadgets que nos caraterizavam!
Criticar o claro consumismo não implica a crítica de algo popular, mas implica o reconhecimento de que todas estas compras são emocionais e que nenhuma irá conseguir preencher o vazio interior.
O desenvolvimento de um estilo pessoal é o primeiro passo para a construção de um perfil de consumidor responsável. Talvez essa seja a receita perfeita para o preenchimento desse vazio (e para o crescimento das poupanças... meh, melhor umas férias).
Agora, claro que isso tornaria a tarefa dos gestores de marketing mais difícil do que já é, por isso vamos continuar a comprar coisas que acabarão vendidas na Vinted (na melhor das hipóteses) ou numa lixeira algures (na pior das hipóteses), contribuindo para a contínua deterioração do planeta.