Há conversas coloquiais de uma grande profundidade filosófica. Há dias, numa esplanada, fui sacudido por um desses momentos.
Corpo do artigo
Ele e ela, na casa dos 60, debatiam a morte. Notava-se que já estavam um pouco tocados pelo vinho do almoço. Ela: "Sabe o que lhe digo? Não me poupo, como e bebo o que me apetece". Ele: "É o que levamos desta vida. Vamos para lá todos". Ela: "Ora". Ele: "Mas se tivermos um dinheirito no bolso, vamos melhor". Ela: "Você gasta tudo na pinga, não pode ter os bolsos cheios, homem". Ele: "Não diga nada, que as tripinhas que comi ainda agora com um tinto de estalo ainda me estão a saltar no papo". Ela: "Pois é, você não acompanha a refeição com vinho, você acompanha o vinho com a refeição". Ele: "Sabe uma coisa: se os ricos pudessem, viviam até aos 200 anos. Pagavam pela eternidade". Ela: "Pois, mas nos dias finais são como nós. A única vantagem de não sermos ricos é essa: bebemos vinho rasca, mas debaixo da terra as larvas não notam a diferença". Num gesto de desprendimento pela vida, pedi um copo do tinto que eles tinham tomado. Pobres larvas.
*JORNALISTA