<strong>1.</strong>É revelador de como o marketing é tantas vezes uma estratégia fascista: as maiores competições desportivas do planeta (futebol ou Olimpíadas) têm, como patrocinadores, marcas de produtos alimentares e fast-food que contribuem fortemente para uma vida menos saudável ou 'desportiva'.
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O excesso de peso e a obesidade são o maior perigo para a saúde pública nos nossos dias - está escrito com todas as letras no recente relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico). A ele junta-se o álcool, até pelas consequências sociais que gera em redor.
Nenhum país conseguirá a prazo controlar os gastos nas saúde se continuar a deixar deflagrar estas pragas de forma descontrolada que desembocam em coisas tão graves e caras como, por exemplo, as terapias para a diabetes ao longo da vida.
A tentativa de fazer esquecer o excesso de açúcar, calorias e gordura que estão na base da sua produção justificam os milhões das campanhas. São os 'valores' das marcas e o brilho das produções publicitárias que fazem sonhar com um estilo de vida completamente oposto ao que a ingestão de açúcar e gordura de forma repetida acabam por ditar. E não há dinheiro de Governo nenhum isolado, ou entidades promotoras da saúde, capazes de financiar uma resposta à altura, sistemática, pelos mesmo meios, para desfazer este embuste global.
2. Vale a pena, por isso, voltar à entrevista publicada na "Notícias Magazine" à médica Cristina Sales há umas semanas. "Os produtos que nos chegam ao prato foram feitos para vender e não para comer. Não têm nada que ver com os alimentos que ingerimos e que nos fizeram viver e sobreviver ao longo de milhões de anos. Esta mudança ocorreu tão depressa que o organismo não está adaptado para gerir, digerir e assimilar estes produtos, pelo contrário, vê-os como substâncias estranhas e reage, inflamando-se".
Uma outra nota sobre a famosa questão do emagrecimento/engordamento que enriquece tantas marcas. Cristina Sales assinala o efeito "glugacon". Ou seja: quando se come mais proteínas que hidratos de carbono, o corpo vai buscar as gorduras armazenadas. Quando se abusa mais das farinhas, arroz ou batatas, o processo de reter as gorduras acentua-se. À luz desta informação, que dietas rigorosíssimas fazem sentido? Como saem as pessoas desses ciclos com melhor saúde? Magras por quanto tempo?
3. Uma dica muito prática da entrevista para os tempos que correm: as tendências depressivas fazem parte dos dias de boa parte da população. Uma dica simples: consumir-se alimentos que ajudem o corpo a produzir serotonina, a 'hormona do bem-estar'. Bife de peru, por exemplo - uma carne mais barata que a carne vermelha tem esse magnífico resultado a prazo. Já a sardinha e a cavala (provavelmente os dois peixes mais acessíveis ao bolso) são os que contêm mais ómega 3 e ajudam a desinflamar órgãos sistematicamente agredidos por alimentos industrializados.
4. E por falar em custos, outro problema: comer bem é mais caro? A verdade é que o essencial da alimentação moderna, como refere Cristina Sales, se baseia em cereais, lácteos, açúcares e gorduras, quase todos altamente industrializados. Daqui derivam milhares de produtos que entram na corrida do baixo preço, mas com pouquíssimos nutrientes. Um arroz de feijão com cavalas grelhadas é mais barato e muito melhor, nutricionalmente, do que qualquer produto embalado de supermercado. É mais barato o pão rico em cereais variados ou integrais do que bolachas ou croissants. Faz melhor e custa menos bom azeite no pão do que manteiga ou margarina. Saladas de diferentes tipos, ervas aromáticas no tempero e sobretudo as leguminosas (grão de bico, feijão, lentilhas) são ricas em minerais e proteínas, essenciais para a saúde. A água é infinitamente melhor que qualquer refrigerante. E, no entanto, em dias de festa, as pessoas podem deitar a razão para trás das costas e comer bolos ou beber o que lhes apetece - e mesmo nesses dias há marcas com melhor qualidade que outras... Melhor será, no entanto, ver a entrevista na íntegra e tirar as suas próprias conclusões.