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Adisciplina de "diplomacia pública" é uma especialidade das relações internacionais via chancelarias, que insiste em técnicas de divulgação, às massas e aos média, aos cidadãos e aos interessados, da actividade das embaixadas e dos ministérios, da sua linha e dos seus objectivos. Claro que o "Wikileaks", o já famosíssimo endereço sueco de divulgação de documentos classificados, não faz parte da "diplomacia pública". Inaugura antes, na senda de organizações como "Debka", "Cryptome" e da rede de Maria Profaca, um novo desafio para todos os poderes públicos: o da diplomacia escancarada.
Não interessa agora discutir as verdadeiras motivações da estrutura do senhor Assange, para além das nobres proclamações sobre direito à verdade, liberdade de informação e acesso a documentos de entidades que agem em nome do público.
Não vale a pena também partir um cabelo em quatro, e debater se o "Wikileaks" é mesmo "aberto", ou se o requisito de uso de determinadas tecnologias (pagas ou grátis) e de certas autorizações para edição, o tornam apenas alcançável a especialistas.
Por fim, não serve este escrito para debater a origem das fugas, seja ela o senhor Bradley Manning, que acedeu à rede "segura" de partilha de dados "SIPRnet", do Departamento de Estado, ou uma série de pessoas, individuais e colectivas, interessadas no escândalo, ou nas reacções ao mesmo.
O que interessa aqui é referir o maná de informação para historiadores e politólogos, interessados em saber se a estratégia dos estados é coerente, ou irracional, fundamentada ou errática.
E importa dizer que esta fuga pode ter duas sequelas: o fortalecimento de leis censórias e de sistemas de segurança.
Mas os governos, e as suas burocracias, precisam de extrair outra lição de tudo isto: há rumores e disparates que não podem fazer parte do discurso oficial, mesmo sigiloso.
P.S.: Numa altura em que muitos vendem a pátria por um prato de lentilhas, num momento em que se entra em maçonarias para subir na vida ou infernizar o próximo, num tempo em que o "interesse nacional" é, para alguns, uma velharia inútil, morre Ernâni Lopes. Professor e economista, membro da reserva naval, português devoto e inteiro, esteve activo - na palavra e no exemplo - até à última hora. Deus queira que possa ser assim com todos nós.