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A página da nossa embaixada em Paris dá o tom a esta temática. Diz-nos o embaixador Moraes Cabral que é "com todo o gosto" que disponibiliza a informação a que podemos aceder.
Pergunto-me o que encontraríamos se o senhor embaixador não fizesse gosto!
Em abstrato, ressoa a elitismo e a distância quase tudo o que diz respeito ao nosso corpo diplomático. Em concreto, não deixou dúvida que assim foi na enfastiada recusa com que a diplomacia presenteou Tony Carreira.
Já se percebeu, por tudo o que foi publicado e explicado que a razão da recusa foi uma desculpa, já que Mísia (pelo menos) foi agraciada pelo ministro da Cultura francês, na presença do embaixador à época, na embaixada e a convite deste. E também já se percebeu que o senhor embaixador não foi à cerimónia deliberadamente e deliberadamente não terá atendido as quatro tentativas de contacto pessoal que o cantor terá empreendido.
Acontece que, neste como em todos os outros casos em que esteja em causa a celebração de Portugal, não pode o senhor embaixador fazer juízo próprio sobre o que tem muito ou pouco gosto de fazer. Tem, sim, de mostrar diligência, entusiasmo e afeto. Da nossa parte e pela nossa parte.
O senhor ministro dos Negócios Estrangeiros percebeu a gafe e tentou a emenda. Mas a emenda acabou por ser pior do que o soneto já que é igualmente elitista e sobranceira a razão sociológica que o move a querer assistir a um concerto de Tony Carreira.
Podemos gostar ou não gostar mas não podemos, ou não devemos, olhar este (ou outro) fenómeno de popularidade do patamar superior da academia de ciências. Bastava pedir desculpas.
O que me leva a pensar que valia a pena dedicar mais atenção e ter uma opinião mais sustentada sobre a atividade dos nossos postos diplomáticos tendo em a conta a responsabilidade inerente de representação coletiva que lhes assiste.
Agora que os negócios entre as nações há muito deixaram de passar pela estrutura formal de representação diplomática e que, portanto, há espaço e, espero, vontade para facilitar a ponte entre os cidadãos, é exigente e escrutinável o desempenho de cada uma das nossas equipas.
No n.º 3 da Rua de Noisiel , por exemplo, pode de certeza ir-se muito mais além da meia dúzia de concertos, exposições ou visitas convenientemente eruditas que se anunciam no site.