É tempo de futebol! De paixões exacerbadas, atitudes histéricas, disfunções nos convívios familiares, relatos contínuos nas diversas estações de rádio, olhos fixos nas televisões acompanhando as transmissões do Mundial.
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Não haveria problema, se todos estivessem conscientes de que o futebol já não é um desporto, mas uma indústria em cujos corredores se multiplicam milhares de milhões de dólares/euros; se todos nós nos lembrássemos que a cada pontapé na bola se movimentam fortunas escandalosas, enquanto algures no Mundo uma criança descalça e seminua dá um chuto numa bola de trapos, ansiando por um bocado de pão; se tivéssemos presente e lutássemos, com tanto empenho como o colocado nesse evento, contra a persistente violação dos direitos humanos em todos os cantos do Mundo: mulheres mortas por violência doméstica, crianças sem infância que morrem de fome, são abusadas, traficadas e raptadas; seres humanos escravizados, homens e mulheres assassinados por quererem liberdade.
Em cada canto da Terra, há jovens assassinados por denunciarem em voz alta e forte os grilhões, violência e tortura a que populações são sujeitas por governantes tiranos, autocráticos e fascizantes. Seres humanos escravizados, até na Europa, mulheres chicoteadas em público, lapidadas, torturadas e mortas apenas porque querem ser mulheres, com todos os direitos e deveres inerentes ao ser humano.
Vivamos o futebol sem esquecer que é preciso denunciar e lutar contra qualquer forma de tirania, violência, discriminação, racismo e xenofobia, defendendo com determinação e emoção a liberdade, a igualdade e a fraternidade entre os povos. Não egoisticamente para nós, mas para todos os que habitam o planeta. Não há planeta B. Aquele que habitamos é a única casa comum de todos os povos do Mundo. Se não lutarmos pelos direitos dos outros, estaremos sozinhos quando deles precisarmos... A verdadeira democracia não se compra, luta-se por ela em alerta permanente. Lembra o preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos que "o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no Mundo". Como podemos observar no dia a dia, a paz no Mundo não é nem será uma realidade se não respeitarmos o outro, os direitos do outros, se não reconhecermos que os nossos direitos têm como limite os direitos fundamentais do outro. Acompanhar e viver o futebol é um direito, uma distracção, um divertimento, mas, com o mesmo empenho com que o seguem, prossigam também com a defesa acérrima dos direitos humanos, não apenas para os exibir como bandeira, mas com uma prática diária de luta e de apoio efectivo aos que sofrem, pelas mais diversas formas, sob o jugo da barbárie, totalitarismo, tirania, opressão e ambição desmedida pelos "30 dinheiros" levados a cabo por certos poderosos do Mundo.
*Ex-diretora do DCIAP
(A autora escreve segundo a antiga ortografia)