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Não vejo por que razão hão de continuar as meninas e os meninos a serem representados da mesma forma que têm sido até agora. É preciso repensar a forma como são imaginados os seus gostos, comportamentos e preferências, ainda que reconheça ser estruturalmente difícil, de tão fundo que está situada na consciência coletiva, alterar a ideia de que não pode ser de outra maneira aquilo que sempre assim foi: meninas, cor-de-rosa, meninos, azul; meninas, bonecas; meninos, carros; meninas, bolas de sabão, meninos, bolas de futebol.
Mas essa mudança parece-me imparável e é uma perda de tempo tentar parar o vento com as mãos. Estou certo de que não será por isso, sosseguem os mais nervosos que por aí andam a anunciar o apocalipse, que se matarão as diferenças naturais entre meninas e meninos, mulheres e homens, que aliás existem e ainda bem. Nem se trata de as querer obrigar a subir às árvores ou de exigir aos rapazes que brinquem com bonecas.
É, antes, uma excelente maneira de fazer precisamente o contrário e criar, logo à partida, condições para que seja socialmente aceitável que, uns e outros, sem restrições ou julgamentos, podem fazer o que quiserem. Até gostar do mesmo, ter os mesmos objetivos, as mesmas vontades, as mesmas expectativas, os mesmos sonhos. E exatamente os mesmos direitos. Tudo o resto é apenas barulho.
* JORNALISTA