Nós temos sempre a esperança que a nossa equipa de futebol ou até o Governo atuem de forma coesa, coerente e sólida. Se as vitórias aparecerem ou as medidas forem benéficas para a comunidade, agitamos a bandeira de adepto ou louvamos os governantes pelo bom senso, nas ruas, nos cafés e, claro, no dia das legislativas.
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Indo ao concreto, no dia 11 deste mês, o ministro da Economia tentou acordar os portugueses para uma realidade: os impostos nos combustíveis não iriam descer. Pedro Siza Vieira até realçou que a estabilidade fiscal agrada aos agentes económicos. De facto nada mudara desde 2016, quando o atual Executivo, posteriormente reeleito, aumentou o ISP (imposto sobre produtos petrolíferos) em 6 cêntimos por litro, com a promessa de anular essa alta quando o petróleo valorizasse. Tudo para não perder receita fiscal. Essa promessa nunca foi cumprida. Ou melhor, foi parcialmente concretizada, mas só agora e sob grande pressão popular e parlamentar. No dia 14, ficámos a saber que mais de 300 mil cidadãos ameaçavam fazer boicotes às grandes marcas de combustíveis e manifestações contra a alta dos preços. No dia 15, o Governo anunciou que o ISP do gasóleo desceria, no sábado seguinte, um cêntimo e quase 2,5 cêntimos na gasolina. Mas como está prevista uma alta de preços para hoje, segunda-feira, o impacto será nulo.
O parque automóvel português tem 6,5 milhões de veículos, metade dos quais depende da gasolina; 48% são abastecidos a gasóleo; 2% são movidos a energias alternativas. Por outro lado, a maior parte dos portugueses - inclusive nas grandes cidades - não tem metro, comboio ou ligações frequentes de autocarro à sua porta para levar os filhos à creche ou à escola e ainda ir para o emprego. Palavras, leva-as o vento (energia renovável que tem faltado para embaratecer a eletricidade). O discurso plug-in é fácil para os idílicos. Para os portugueses, o dia a dia é mais difícil e poluente.
*Editor-executivo-adjunto