Por agora tudo se passa na Nova Zelândia, nos antípodas da nossa realidade. Uma proposta de combate ao tabagismo vai impedir que os nascidos a partir de 2008 possam vir a aceder a tabaco de forma legal. O Governo quer criar uma geração sem fumo, razão para investir numa lei que todos os anos vai atualizar a idade mínima necessária para comprar tabaco, com o objetivo de reduzir gradualmente a taxa de fumadores.
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Ninguém duvida que fumar mata. É pura ciência, a mesma que nos diz que o sal causa muitas mortes evitáveis todos os anos, que o açúcar é puro veneno, que os alimentos processados não são saudáveis. E ainda assim as sucessivas restrições, cada vez mais absolutas, permitem questionar se não estaremos a legislar excessivamente rumo a uma visão excessivamente proibitiva do que comemos ou consumimos.
Estou à vontade nesta discussão. Nunca fumei e sou favorável a espaços públicos livres de fumo, sendo a nossa legislação bastante equilibrada a defender a saúde e os direitos de não fumadores. Mas não me passaria pela cabeça questionar o direito de escolha de quem fuma ou já fumou. E detestaria uma sociedade em que começássemos a questionar o direito a uma bebida alcoólica (por mais que devêssemos refletir sobre o excesso de consumo que culturalmente damos por adquirido), o direito a um prato carregado de gordura, o direito a um excesso de vez em quando.
Claro que é preciso educar para aquilo que nos prejudica a saúde. Além de argumentos individuais, há razões coletivas para isso. Desde os efeitos sociais, à despesa evitável do Serviço Nacional de Saúde com doenças causadas por uma alimentação deficiente, pelo tabagismo ou pelo alcoolismo, são muitos os motivos para investir em educação para a saúde. Mas educar não é (apenas) proibir. E muito menos entrar numa espécie de ditadura sanitária, que se torna incapaz de entender as diferenças e as escolhas individuais. Por agora é na Nova Zelândia, mas não tenho grandes dúvidas de que outros países se seguirão. Resta saber se nos tornaremos mais saudáveis, ou apenas mais obsessivos e intolerantes.
Diretora do "Jornal de Notícias"