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o economista turco Nouriel Roubini, uma espécie de novo oráculo da classe (logo, odiado por uns e venerado por outros) foi dos poucos a preverem com admirável antecedência a actual crise económica e financeira. Entrevistado na edição do passado domingo do diário espanhol "El País", o "Doutor Catástrofe", como gostam de lhe chamar os seus detractores, antevê um novo e significativo desarranjo nas economias mundiais. "Ao passo a que vamos, a próxima crise financeira será ainda pior", sentencia Nouriel Roubini.
Um susto? Não. Um grande susto! Motivos para o dito: "Vêm aí anos de baixo crescimento económico, por muito bem que resultem as excepcionais, e em muitos casos insólitas, medidas de política fiscal e monetária que se puseram em marcha. Vêm aí anos dolorosos, motivados pela ressaca do alto endividamento privado e público no mundo rico. A boa notícia é que podemos evitar uma recaída na recessão. A má é que não podemos fazer muito mais do que isso".
E, claro, para países como Portugal, travar este "furacão" para não experimentarmos a ruína é uma tarefa hercúlea. "O crescimento na Europa, especialmente nos PIGS [acrónimo para Portugal, Itália, Grécia e Espanha], será muito baixo e inclusivamente negativo", refere o economista que partilha, hoje, o pódio da moda com o nobel Paul Krugman.
Ao ler isto, ao reflectir sobre esta assustadora mas crível possibilidade, é fácil concordar com o que disse Pedro Passos Coelho, momentos antes de o PSD selar um acordo com o Governo para a viabilização do Orçamento do Estado (OE) de 2011. O que se fez foi dar um "pequeníssimo" passo no íngreme caminho que temos pela frente. Estejamos certos: acreditando - exercício acoplado a uma ampla dose de ingenuidade - que nenhuma crise política estragará o essencial, temos pela frente, no mínimo, uma década de intensos esforços, até colocarmos as nossas finanças e a nossa economia no trilho. Não há volta a dar--lhe.
Dois exemplos apenas. No próximo ano, Portugal precisará de se financiar em 40 mil milhões de euros (poucos menos de um quarto da riqueza produzida pelo país num ano inteiro) para conseguir pagar muitos dos compromissos assumidos. É uma brutalidade bem ilustrativa da dependência do exterior a que chegamos.
Acresce que este "combate" terá de ser feito de acordo com um conjunto de regras ainda mais apertadas. No último Conselho Europeu, o "diktat" franco-alemão começou a definir as baias: países que não cumpram o défice, como nós, vão ter a vida bem mais dificultada. A Alemanha não está disposta a aceitar que os prevaricadores façam perigar o seu já invejável crescimento económico.
E se a Alemanha quer...