Enquanto o Governo se mantém firme e hirto no perfil de bom aluno - termo apalermado, sobretudo porque o comportamento sem mácula não é garantia de boas notas - parceiros sociais e políticos do campo da Oposição têm procurado chegar por estes dias ao coração do triunvirato regente do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro do país. À entrada da sexta avaliação, os ecos de tais encontros apontam todos num mesmo sentido: os representantes da Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu ouvem, ouvem, ouvem, mas são parcos em palavras, todas convergentes na inflexibilidade de entrega de cheques contra o aligeirar da austeridade.
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As projeções de mais e mais empobrecimento dos portugueses mantêm-se, pois, intocáveis. A recessão económica e a concomitante degradação social está, de resto, plasmada em todos os prognósticos macroeconómicos para o próximo ano - incluindo os do Governo, apesar de mais benignos do que os do Banco de Portugal, União Europeia, FMI, e por aí fora....
Não apenas ideológico, o confronto de posições passa, enfim, pelo modelo em curso, de emagrecimento a todo o custo, e/ou o abrandamento das políticas restritivas em troca de mais tempo para a respetiva aplicação e a eventual descida da taxa de juro paga pelo empréstimo-resgate. Radical e mais nociva para o futuro nacional, a terceira via é a do incumprimento e saída do euro....
Em qual dos três tabuleiros mora a razão?
Será redutor o posicionamento ontem (re)manifestado pelo ministro das Finanças, Vítor Gaspar, segundo o qual "as alternativas [propostas] dependem de mecanismos fantasiosos ou da benevolência imaginada de terceiros". Isto é, traduzindo pela via simplista: da assunção de garantias da dívida por terceiros ou pelos países membros da própria União Europeia (eurobonds, uma hipótese) ou, então, pelo altruísmo do perdão pelos chamados mercados de milhões de milhões de euros. Numa circunstância assim, de inexistência de alternativas, fica por resolver o défice explicativo da política de austeridade em curso e cujos resultados não auguram nada de bom, para já. Afinal, até os membros da Conferência Episcopal Portuguesa consideraram ontem "a importância da explicação, clara e prévia, das medidas que se tomam e das razões que as determinam".
Chegados ao atual cenário negro, tarda de facto, se calhar, uma explicação primária para um melhor convencimento. E bem poderia resumir-se numa pergunta e numa resposta. Assim:
Se amanhã se puser o conta-quilómetros da dívida a zero e nada se mudar de estrutural no país, o que acontece?
Simples. A dívida voltará a engordar até níveis insustentáveis.