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Já toda a gente percebeu que a situação económica se agravou e percebeu que em breve se vai tornar insustentável, ainda o primeiro-ministro se comporta como se nada se passasse e estivéssemos, apenas, com alguns problemas herdados de uma crise mundial em vias de resolução, e a viver momentos de alívio de uma crise em vias de solução.
Mas a realidade está aí estampada nos números que vieram a público nesta semana e que não há como esconder. São completamente alarmantes, como toda a gente percebeu: a dívida pública cresce 2,5 M € /hora, como salientou Pedro Passos Coelho, e o Banco de Portugal tem cada vez mais dificuldade em arranjar financiadores da dívida e, consequentemente, tem dinheiro cada vez mais caro.
Perante estes dados, o primeiro-ministro reage da forma mais estranha e irracional. Finge que nada acontece e assobia alegremente para o lado. Durante os dois últimos meses assistimos a sucessivos golpes de táctica propagandística para desviar a atenção da dureza da realidade. O PS lançou um ataque ao PSD, também ele fundamentado em elucubrações dentro da ideia de que talvez assim as coisas passem e ninguém dê por nada. Mas, infelizmente para o país, dá-se por isso e todos já perceberam que a dureza dos números da situação nos aproxima a passos largos da dramática situação grega.
Nos dois últimos meses foram transformadas em armas políticas estranhos argumentos transformando as propostas do PSD em teses longínquas da realidade para mero preenchimento da agenda política. Encheram-se manchetes com grandes teses e levantaram-se armas contra moinhos de vento. Disse-se, entre muitos outros dislates, que o projecto de revisão constitucional do PSD atacava o Estado social e o punha em causa, como se ele já não estivesse perigosamente ameaçado face à dívida pública. Disse-se que o projecto de revisão constitucional abria lugar aos despedimentos, como se alguém conseguisse emprego sem recibo verde e como se o desemprego não estivesse o maior de sempre, já sem contar com os desempregados de longa duração não inscritos no Fundo de Desemprego.
Nestes dias complexos para Portugal e na véspera do Orçamento do Estado, o normal do comportamento responsável de um governo minoritário deveria sentar-se à mesa com o PSD e negociar o próximo orçamento, aceitando com toda a responsabilidade a inevitabilidade da necessária diminuição da despesa pública. O PS não o faz e vamos todos pagar isso muito rapidamente.
No entanto, o eng.º Sócrates não tem outra alternativa e o calendário não joga a seu favor. Antes do Orçamento e quando preparava uma operação de responsabilização do maior partido da Oposição - como se isso fosse possível - pela situação, a verdade veio ao de cima e, infelizmente para os portugueses, está agora estampada e visível em toda a Comunicação Social: o país não consegue financiar-se e cada mês se torna mais difícil e mais caro. O Governo está dia-a-dia a levar Portugal para uma escalada perigosa e sem saída, insistindo em negar a realidade e enfrentá-la com frontalidade e coragem.
Para evitar novas situações como a grega, ou para obviar à incapacidade do Governo português de inverter a situação da dívida pública (ao contrário do governo espanhol ou irlandês), o ministro das Finanças alemão, número dois do partido democrata-cristão, propôs que os países faltosos, que não cumpram o PEC, perdessem o direito de voto no Conselho da Europa. Esta proposta veio a ser transformada numa fórmula muito mais suave, alternativa, de obrigatoriedade de partilha de informação orçamental no início dos processos de elaboração orçamental, em Maio de cada ano, e não só dos países faltosos, mas de todos sem excepção.
Infelizmente parece que nem isso chega para que o Governo português governe com responsabilidade e sentido de Estado. Em pleno agudizar da situação, o Governo dá todos os dias sinais da sua incapacidade: o primeiro-ministro inaugura obras feitas, os ministros desdizem e desfazem o que fizeram, recuam, mentem, efabulam, inventam. Sobretudo o Governo inventa polémicas com o PSD para ver se distrai os portugueses. Não adianta, ou se encontra uma séria saída política ou em breve terminaremos não mãos do Fundo Monetário Internacional.