As referências políticas das esquerdas esfrangalham-se umas atrás das outras, num estertor de miséria que demonstra, 26 anos depois da queda do Muro de Berlim, como nos caminhos para o socialismo tudo se repete.
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Na Venezuela, um dos países mais ricos do planeta, as prateleiras dos supermercados estão vazias, a energia falta, os funcionários públicos trabalham dois dias por semana - ainda teremos Arménio Carlos a louvar a vitória dos trabalhadores bolivarianos - e como uma querida amiga recordava há dias, Nicolás Maduro descobre Hugo Chávez num "pajarito que le murmura cosas belas".
Às mãos do PT e de Dilma Rousseff, o Brasil desbarata a credibilidade económica e financeira construídas com sacrifício por Fernando Henrique Cardoso. Recessão, inflação, aumento do desemprego, corrupção e um "impeachment" à presidenta por crime de responsabilidade justificado em "pedaladas fiscais" foram o resultado.
Mais próximo, passadas as manchetes fascinadas com a ascensão de Alexis Tsipras, espécie de Che Guevara da modernidade que levou Marisa Matias em lágrimas à Grécia, o país repete-se em resgates e o Syriza impõe mais austeridade, do que toda a austeridade somada antes de si pelo Pasok e a Nova Democracia, ou fora de fronteiras por qualquer dos países obrigados a programas de ajustamento.
Alguém ainda recorda a eurodeputada a gritar em Salónica que "se o Syriza ganhar acaba-se com o caos"?
Ou os comunicados do BE, laudatórios de Chávez e Maduro, obreiros da "República Bolivariana da Venezuela, caracterizada pela justiça social, solidariedade e outra redistribuição da riqueza, acesso à educação, saúde e cultura"?
Ou o lamento do PCP pelas eleições que Maduro perdeu, expressando "a sua solidariedade às forças reunidas no Grande Polo Patriótico (...) ao Partido Socialista Unido da Venezuela e ao PC da Venezuela, com a confiança de que as forças progressistas e revolucionárias encontrarão as soluções que defendam o processo revolucionário bolivariano e as suas históricas conquistas que tão importante repercussão têm tido na América Latina"?
As soluções encontradas, bem sabemos, traduziram-se neste caso na recusa da concessão do poder a quem venceu nas urnas e a imposição ao povo, de um país à míngua.
Já o Syriza, tem contado com o apoio amigo do PS português.
Em consequência, é com a Grécia e não com a Irlanda, que a Europa volta a comparar Portugal. E não será fazendo cá o que a Grécia, Venezuela e Brasil experimentaram, com o aplauso das esquerdas portuguesas, que o resultado será melhor.