1.Barómetros e sondagens recentemente publicados apontam o caminho do abismo ao PSD e, por consequência, o caminho da glória ao PS e ao primeiro-ministro. Nada que não se conseguisse prever: a "política" errática de Manuela Ferreira Leite só podia dar nisto.
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Vai a líder do PSD a tempo de inverter as coisas? É pouco provável. Os portugueses já não lhe reconhecem qualidade e capacidade. O partido começa a mostrar sérios sinais de divisão. Os jantares ganham tons de conspiração. Manuela Ferreira Leite só pode queixar-se de si mesma.
O mais natural seria que, pressionado pela crise e pelas reivindicações que dela decorrem, pela amargura que compreensivelmente se cola à vida daqueles que vivem com mais dificuldades, pelo aproveitamento político das corporações, o Governo estivesse a passar pela sua fase mais delicada. Não está, de acordo com os estudos de opinião. Há numa parte disto "arte" de José Sócrates, mas também há, noutra parte, falta de "arte" do PSD.
Já aqui o disse: Manuela Ferreira Leite é politicamente tenrinha, circunstância que lhe custará o cargo mais depressa do que ela imagina. Exemplo: a forma como levantou a questão do aumento do salário mínimo foi desastrosa. Para acentuar os tiques de autoridade e responsabilidade, a líder do PSD falou do tema com uma aspereza que só podia causar rejeição. E, no entanto, a matéria é tão importante que devia merecer uma discussão alargada. Assim, Ferreira Leite deu apenas hipótese ao primeiro-ministro de a trucidar. Agora e sempre que o tema vier à baila.
Os barómetros e as sondagens mostram também que o Bloco de Esquerda continua a galgar terreno e que o CDS/PP segue em direcção ao desaparecimento. É normal: podemos gostar ou detestar o estilo, mas há que reconhecer aos bloquistas força na mensagem e determinação nas propostas, precisamente aquilo que falta ao PSD. Esse era igualmente o trunfo essencial de Paulo Portas, na altura em que a ida às feiras e às feirinhas lhe animava a alma e o colocava com facilidade no espaço mediático. Hoje, o CDS/PP limita-se a esbracejar para mostrar que existe. As próximas eleições serão decisivas para o futuro do partido.
Com um PS (ainda) fora da maioria absoluta, resta saber se, mantendo-se assim as coisas, o Bloco resiste à entrada no arco da governabilidade. Este facto, que levanta uma interessante discussão, coloca sérios problemas ao PCP. À medida que o Bloco cresce, é natural que cresça também a tendência para que o voto de protesto à Esquerda fuja mais facilmente dos comunistas (excluindo, claro está, o voto ideológico). Ou seja: o PCP arrisca-se a não capitalizar a crise como gostaria, de modo a mostrar sinais de crescimento.